Adriana Calcanhotto
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CALOR. Tudo lateja. Que chama é essa que singulariza e dá propulsão à CANTADA de Adriana Calcanhotto? Quem sabe? Talvez a vontade e a capacidade de manter aceso o veio experimental não nas bordas alternativas, mas, precisamente, no mainstream da música pop comercial. E ela o faz pelos caminhos menos óbvios: pela diminuição proposital dos acordes em proveito de um cancioneiro minimalista lúdico e pela promessa de felicidade – pela CANTADA – com a qual conseguiu seduzir para o seu projeto os músicos-autores que a ajudam a realizá-lo.

Ela nos confessou que os escolheu por não serem músicos-funcionários, mas criadores que, orientados pela lei do desejo, conseguem penetrar em territórios ainda não inteiramente mapeados. Outsiders, encontram-se fora da indústria, o que lhes permite ser mais surpreendentes e engraçados. "É a galera com que mais me identifico". Moreno + 2, Los Hermanos, Bossacucanova fazem um uso desassombrado e descompromissado da tecnologia de ponta: cibernética, sim, porém a serviço do balanço, sem fetiches nem macaqueamentos de estereótipos importados. Um tempero para a NOITE é acrescentado por Daniel Jobim quando desliza pelas superfícies das canções.

O atraente diferencial de Adriana Calcanhotto é essa arte combinatória e ousada de incorporar no trabalho dissonâncias culturais de tal modo que, longe de tentar harmonizá-las, enfatiza seus choques, suas fendas e suas brechas, como se fosse um DJ, a arranhar e samplear sonoridades reconhecíveis da música comercial e erudita, da poesia canônica e de clichês liricistas entremeados de sugestões de frases musicais cantaroladas. Não por acaso SE TUDO PODE ACONTECER se dá como um hino à fecundidade do acaso. É desse modo que brota o seu acre-doce estilo novo de sedução. Trata-se de uma recusa à fusion convencional, a palatáveis colchas de retalhos e à empolada polenta caipiro-cosmolita. Vamos comer Madonna? O convite para comer o boogie-woogie da Madonna (MUSIC/IMPRESSIVE INSTANT) resulta no bomb-shell que é a Madonna adrianizada.

Eis aqui um PROGRAMA deliberadamente enviesado, incorporando claros-escuros, arranjos impuros, explorações ready-mades, quase-tecnos, músicas para pistas de danças, instantes marcantes, momentos decisivos, in-seguranças máximas e perícia na manipulação das identidades oscilantes entre SOU SEU e SOU SUA. Calcanhotto transita entre o público e as nuances da INTIMIDADE. A leitura em diagonal das páginas amarelas do JORNAL DE SERVIÇO de Carlos Drummond de Andrade é um ponto alto dessa celebração. Assim se lançam PELOS ARES canções que fazem despertar os homens (e as mulheres) e adormecer as crianças (NINAR).

Orgulhamos-nos de fazer parte dessa galera. Como poderiam poetas chapa-quente deixar de cair na CANTADA de Adriana Calcanhotto?

Fonte: AdrianaCalcanhotto.com


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