Afrika Gumbe

Toque

Afrika Gumbe

Meu Refrão Inquieto


Ela me passou o pão
Sentou do outro lado da mesa
Grudada, colada à cadeira
Manhã crescendo, café esfriando

A voz dela sumia
No barulho alegre do dia
Na confusa manhã de algazarra
A cabeça e o bule ferviam
Eu queira e nada

Eu preferia vê-la de longe
Sorrindo, feliz como pipa
Sentada no banco quadrado
Séria, olho baixo na missa

Eu pedia média e um pão
Na paz do pé sujo bebendo
Se ouvir dúvida ou um não
Arroz de festa, sabendo

Toque no escuro, toque que é quente
Toque de amigo, toque tesão
Toque de baixo, toque de fato
Toque no mato, toque ilusão
Toque que entorta, toque que embosca
Toque que é bosta, toque bundão
Troca de posto, troca de gosto
Toque no muro, toque pressão

Toque que entorta, toque que encosta
Toque que é bosta, toque bundão

Sem plano de vôo na sala
Olhando a imagem cansada
Conforto-chinelo-jornal
Tentando fugir da final

Puxando do bolso a nota
Da rota de fuga da língua
A unha passada do ponto
Conversa com gosto de íngua

Se a mentira vinga a desonra
Do cavalo que não toma a ponta
A conta no osso, a pele
O sorriso mais que amarelo

Se a foice não fere o martelo
A voz dela me bate na nuca
Cutuca
Pisando o tapete vermelho
Tentando sair da sinuca

Compositores: Marcelo de Campos Lobato, Marcos de Campos Lobato (Marcos Lobato)
ECAD: Obra #4004101

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