Eu vi uma lagartixa, - Redondo Sinhá, e ela era comportada, - Redondo Sinhá. Saía à boca da noite, chegava de madrugada, com a saia na cabeça, soluçando embriagada. Com a saia na cabeça, - Redondo Sinhá, soluçando embrigada, - Redondo Sinhá.
Eu vi outra lagartixa num coco de embolada, negava ser Mulher-Dama mas depois de três bicadas me pegou assim d'um jeito, me matou de umbigada!
Eu vi uma lagartixa, ai, estava numa janela, ai dizendo que era honrada, que er moça donzela. Vi quatro calangos verdes: todos eram filhos dela!
Eu vi outra lagartixa, essa era uma Senhora. Passava a noite no samba, cachimbava a toda hora, dizia pro seu marido: 'É duro trabalhar fora!'
Eu vi uma lagartixa, que na lagoa morou. Que sonhava ser princesa por um sapo apaixonou-se, beijou ele a vida inteira: ele não desencantou!
Eu vi outra lagartixa tomando banho de açude. O açude estava cheio, fui banhar-me mas não pude, ela sujou toda a água, ainda ficou cheia de grude!
Eu vi uma lagartixa enganar pato e guiné, teve um filho de uma pulga outro de um bicho-de-pé, doze de uma cobra d'agua, vinte e três de um jacaré!
Eu vi outra lagartixa que queria se casar. Me pediu em casamento mas mamãe jurou não dar. Ela fugiu com papai, suas filhas fui criar!
Eu vi uma lagartixa, ai, estava no meio da feira, tinha pra mais de cem netos, jurava que era solteira. Perguntei a sua idade, me negou a vida inteira!
Eu vi outra lagartixa na varanda de um sobrado, ela estava namorando junto com seu namorado, assentada na cadeira e o rabão dependurado!
Quem 'ver' uma lagartixa no sertão, mata ou no mar, entregue logo pra ela um pandeiro ou um ganzá, que ela canta esse coco do jeito que eu ouvi lá!
by /crara
Compositores: Antonio Carlos Nobrega de Almeida (Antonio Nobrega), Wilson Freire de Lima (Wilson Freire) ECAD: Obra #187280