Antonio Nóbrega
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Meu Foguete Brasileiro

Antonio Nóbrega

Lunário Perpétuo


Eu fiz um foguete de andar pelo espaço,
Igual um que eu vi pela televisão:
Não sei se era coisa da frança ou japão,
Mas basta ver gringo fazer, eu já faço!...
Mandei buscar logo cem chapas de aço,
Latão, alumínio, ferro de soldar;
Dez mil arrebites para reforçar
A parte de fora da infra-estrutura:
Cem metros de longo, trinta de largura,
E dez de galope voando no ar.

Botei no foguete diversas antenas
Para captar raios infravermelhos.
Na parte de cima, um sistema de espelhos
Que amplia as imagens de estrelas pequenas.
Motores na popa que servem apenas
Pra tudo aquecer, e pra refrigerar.
Movidos a pura energia solar
Tem computadores, tvs virtuais:
Mil inteligências artificiais
Que cantam galope, voando no ar!

Maior do que tudo é a parte cargueira
Que leva produtos de exportação:
Tem saca de açúcar, tonel de carvão,
Baú de café, tora de madeira.
Tem pano de lenço, tem palha de esteira,
Xampu, querosene, bebida de bar,
Rede de dormir, colchão de deitar,
Cueca de seda, calcinha de renda...
Achando quem compre, não tem quem não venda,
Cantando galope e voando no ar!

Merece destaque o setor de varejo,
Com mercadorias de boa saída:
Barraca de praia, caixa de bebida,
Ganzá, cavaquinho, tantã, realejo...
Lagosta, siri, corda de caranguejo,
Tem carne de sol e tem frutos do mar;
Cordão de ceroula, produtos do lar,
Catálogo novo, preço de primeira:
Daqui do país, só não vendo a bandeira
Que vai hasteada, voando no ar...

Criei, no foguete, diversos setores:
Indústria, comércio, serviços, lazer.
Fazendas de soja pra dar de comer
Aos meus tripulantes e navegadores.
Conjuntos de vilas pros trabalhadores
E até "piscinão" com água do mar;
Meu grande foguete é obra sem-par,
Maior do que a china, melhor que o japão,
Tão belo de ver que parece o sertão
Cantando galope, e voando no ar...

Depois de sentado no meu tamborete,
Puxei a lavanca, pisei no pedal,
Subi pro espaço com força total,
Fazendo tremer o motor do foguete.
Passei bem por cima do empire state,
Da torre eiffel, e do palomar;
E vi pela tela se distanciar
A mancha azulada do nosso planeta...
Pensei: "minha nossa! aqui vai tonheta,
Cantando galope, e voando no ar!"

Fiz logo uma escala no chão marciano,
Vendi rapadura, comprei tungstênio,
Enchi os meus tanques de oxigênio,
Parti outra vez no começo do ano.
Passei por saturno, passei por urano,
Cheguei lá no fim do sistema solar;
Desci em plutão, tomei banho de mar,
Botei gasolina comum e azul,
Segui com destino ao cruzeiro do sul,
Cantando galope e voando no ar!...

Foi tanta viagem, foi tanta aventura,
Foi tanta demanda, foi tanta odisséia...
Eu posso jurar à distinta platéia
Que tudo isso foi a verdade mais pura.
Também teve um pouco de literatura,
História inventada para relaxar;
Mas eu que não minto não quero falar,
E o resto eu só conto aqui pra você
No próximo show, ou em outro cd,
Cantando galope e voando no ar...

Compositores: Antonio Carlos Nobrega de Almeida (Antonio Nobrega), Braulio Fernandes Tavares Neto
ECAD: Obra #774532 Fonograma #645872

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