Zumbi, um negro, respirando rebeldia, foge pra mata um dia à procura do lugar. Era um Quilombo, a terra dos ex-escravos, todos livres, sem os travos, sem ter dono pra ferrar.
Vinham mestiços, índios chegavam do eito, todos lá tinham direito, preto, branco sarará, Uma nação de iguais sem oprimidos, de homens livres nascidos, crescidos sem apanhar.
O sol, o sol lá vem. Eu namoro uma morena, que eu sou moreno também.
Chegaram ali brancos pobres, mamelucos, com pau, pedra e trabuco pra liberdade ganhar. Todos queriam ser mais um quilombola, não viver pedindo esmola a quem não queria dar.
Uma cruzada contra os povos livres, bravos, para mantê-los escravos, correram então a formar. e a batalha derradeira aconteceu, jamais dela se esqueceu quem nasceu nesse lugar.
O sol, o sol lá vem. Eu namoro uma morena, que eu sou moreno também.
Vi preto livre lá na Serra da Barriga enfrentar bala e urtiga para não se escravizar. Como uma praga, saída dos evangelhos, vi Domingos Jorge Velho palmares incendiar.
Eu vi foi tiro, eu vi corte de peixeira, pernada de capoeira, vi corpo no chão rolar. Eu vi Zumbi ser preso, ser torturado, violado e humilhado por querer se libertar.
O sol, o sol lá vem. Eu namoro uma morena, que eu sou moreno também.
Eu vi seu corpo ser a faca esquartejado, como um bicho ser sangrado, eu vi o seu degolar. Vi a cabeça enfiada numa vara, eu vi toda sua cara no sol quente descarnar.
Primeiro sonho brasileiro, de igualdade, fraterno, de liberdade, ali veio se acabar. Mas foi semente e deixou ensinamento que ainda está em tempo de viver pra se sonhar.
O sol, o sol lá vem. Eu namoro uma morena, que eu sou moreno também.
Compositores: Antonio Carlos Nobrega de Almeida (Antonio Nobrega), Wilson Freire de Lima (Wilson Freire) ECAD: Obra #583662 Fonograma #480884