Aperto tua mão e - horas depois - inda sinto na minha o teu cheiro. Aperto tua mão e - horas depois - o teu cheiro. Que coisa tátil é essa que me remete e tantos gostos e graças? Que ritual herege teu tato que traz de volta a viva paixão enterrada?
Aperto tua mão e - horas depois - ainda sinto em vão teu miasma. Aperto tua mão e - horas depois - teu miasma. Resta o vago mostro redesperto, resta a transparente medusa de esperas. Minhas cem mil cabeças expectam por ti, Meus desejos-hidra crescem de volta dos jazidos pescoços inertes. Para reterem-te no teu cheiro.
Apertei a tua mão e eras tu, ali. Olorosa oferenda. Apertei a tua mão e eras tu, ali. Oferenda. Apertei tua mão e eras de novo olhos e boca e peitos e pernas e sexo. Dentes e língua. Tua mais profunda pele.
Apertei a tua mão e, nela, todos os cheiros do desejo estavam. Apertei a tua mão e, nela, todos os cheiros estavam. Apertei a tua mão e, de novo, te quis.
(Dona Chica dimirou-se de que houvesse uma paixão tão grande assim...)
Compositor: Arthur de Faria Silva (Arthur de Faria) ECAD: Obra #2820100 Fonograma #365052