Aindo os pingos do sereno permanecem Entrelaçados com o reinado do capim Ainda paira no sossego da manhã O doce cheiro que vem da flor do alecrim
Ainda bem a lua nem se apagou Pra ir dormir no berço deste azul sem fim Nem bem o sol rompeu a sombra do infinito Já canta o carro da saudade para mim
E lá vem ele só No vermelhão do pó Num canto triste Do chumaço e do cocão
Carro de boi que vem Na estrada azul do além Vem no compasso De saudade e solidão
É o que vejo me espelhando no passado Do emaranhado da lembrança torturar Um velho carro a gemer sobre a campina No passo lento da boiada a lhe arrastar
Em cada folha que goteja o frio orvalho Em cada flor que o sol ansioso vem beijar Tudo se torna uma carga de saudade Pro velho carro do meu peito carregar
E lá vem ele só No vermelhão do pó Num canto triste Do chumaço e do cocão
Carro de boi que vem Na estrada azul do além Vem no compasso De saudade e solidão
Hoje seu canto é uma escrita desbotada No livro gasto da poesia do sertão Foi se apagando aos poucos sua melodia Sob o barulho do motor do caminhão
Sua madeira foi ficando apodrecida E seu carreiro sem emprego e sem patrão E os verdes campos hoje estão emudecidos Sem o seu carro, sem a rima e sem canção
E lá vem ele só No vermelhão do pó Num canto triste Do chumaço e do cocão
Carro de boi que vem Na estrada azul do além Vem no compasso De saudade e solidão
Carro de boi que vem Na estrada azul do além Vem no compasso De saudade e solidão
Compositor: Adir Paiva Neto (Paiva) ECAD: Obra #4867502