Atitude Consciente

A Fé

Atitude Consciente


Quantas vezes brindei, quantas caixas de rojão soltei
Comemorando os inimigos que eu mesmo matei?
Com 16 já tava no educandário
Fazendo cursinho pra faculdade do crime, é claro

Pulso algemado, infância destruída
Eu só conhecia a parte macabra da vida
Eu vi o inferno de perto, pode acreditar
Afogamento, espancamento, sofri na mão dos 'polícia

Cabeça erguida, no X fui bem recebido
Perdi a batalha, mas a guerra tava só no início
Rebelião, fogo no colchão, cadeia de ponta a cabeça
e nós com os estoques na mão

Fazendo os educador de escudo
Com medo da polícia invadir, matar todo mundo
Mesmo no inferno eu lembrava de Deus irmão
Quando cantou a minha... Eu tava com o joelho no chão

Lembro até hoje, como se fosse ontem
Eu, Thiago, Wilson no plantão toda noite
Das nove até as três, óh, pistola e revólver
Se o cuzão do rival atacar, engole as quinze de nove

Sobrou 'pá nós ser catador de lotérica
Com as armas de brinquedo deixar quase estérica
Click-Clack, lembrei de nós na cela
Sem adianto, a noite cai restou pagar um valete na jega

Quantos velório meu peito doeu
Vendo caixão com flores, caralho, podia ser meu
Só que não... Deus preferiu absolver o réu
Mesmo depois da cena de vingança, saída pra cascavel

Senhor, só tú és digno de honra e louvor
Debatia as terras que respira, então glória senhor
Que antes do disparo resgatou
Ontem bandido, hoje pai de família, trabalhador

No caminho inteiro de maldade, rancor
Só tinha dó da minha mãe que no fim sentiria dor
Eu vou que vou enquanto tiver bala e tiro
Pra mídia sou um assassino lapidando meu próprio destino

Mais cruel já visto, o temor da babilônia
Um monstro com ódio no sangue, fiz, juz da vida louca
Sem alma eu andei na calada, armado e tenso
Meu próprio inimigo é eu, mirava em meu próprio seio

Hoje não teve jeito, a morte me parou mais cedo
Vários homicídios nas costas, e pus respeito
Não tinha medo o crime cobra é desse jeito
Fiz várias mães chorar fazer o que se é assim mesmo

No gueto... Sempre 'trombava cara a cara
Irmão de finados que um dia eu meti bala
Mente tá pesada, eu vou parar mas não consigo
Quanto mais eu mato, mais eu faço inimigo

Tipo um castigo, o meu fim já estava previsto
Morrer que nem um dia eu matei era o destino
Imprevisível, o crime, o ódio e as tretas
O demônio em pessoa com as 380

Não tinha medo virava cruz dentro do inferno
O diabo era um anjo quando me via por perto
Doutor esperto, ou tanto quanto acreditava
Que as quadradas destravava enquanto o Lúcifer dava risada

Queria ver de novo os meus manos lado a lado
Sem ter caixão lacrado e chacina no noticiário
Deixaram claro o sistema é guilhotina
Taparam nossas bocas, vendaram nossas vistas

Escondido da família tá o filho na festa Funk
Cheirando cocaína, se degradando aos montes
Vários ignorantes arrasados na moda
Mais um que a mídia gosta se enforca na própria corda

O que me incomoda é saber que o próprio Brasil
Não admite que vivemos em guerra civil
Tiros de fuzil que assusta o fardas marrom
Que os pau no cu do choque não me trombe na missão

Compositor: Godines

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