De Mercedes, de Mãe
Quando me lembro dela fica difícil falar
Tão bela assim nunca vi, a sutileza no olhar
Mãe solteira, guerreira, boa brasileira
Que nunca desistiu, correu, lutou a vida inteira
E pequenina de mãos dadas eu olhava pra cima
Pra me abraçar ajoelhava: que cena bonita
Quem olhava de lá podia sentir a paz
Pois nosso gesto de amor era claro demais
E os anos foram passando, a pequena crescendo
Ela olhava no espelho, dizia: "Tô envelhecendo! "
Não dava pra perceber, sempre tão vaidosa
Com espírito jovem, adorava uma prosa
E proseando com o médico: "Não pode ser! "
Chegou em casa chorando: "Filha, é câncer! "
Vamos ao tratamento, não dá pra perder tempo
É difícil, é lento, Deus nos dê sustento
Ao treze anos de idade junto eu sempre ia
Acompanhar minha mãe à quimioterapia
Foi um ano difícil, mas que logo passou
E o exame nos disse que ela se curou
Um 'M' marca o meu corpo, junto ao meu coração
De Mercedes, de Mãe, deixou a grande lição
De mulher pra mulher é minha declaração
A guerreira da vida me inspirou a canção
Todo mês rotina médica, essencial
Durante cinco anos, tava tudo normal
E elas seguiam na vida com cumplicidade
Compartilhando sorrisos, segredos, dificuldades
Nessa hora o filme então parece se repetir
A conversa, o médico, metástase
O câncer que antigamente tinha acabado
Seguiu pro fígado a célula, tá alojado
respire, inspire, respire, não adianta chorar
Provação só aparece pra quem consegue aguentar
Eu tinha provas que força, fé, não nos faltava
mãe, segura minha mão que eu te levo pra casa
A mulher vaidosa mais uma vez perdeu o seu cabelo
Haviam mechas no chão, debaixo do chuveiro
Se dirigiu para mim: "Olha, ele caiu"
você vai ficar linda. E ela sorriu
E assim seguiram outros cinco anos de luta
Medicando, esperando, sempre na labuta
Quem olhava pra ela não conseguia entender
Como era tão feliz a mulher com câncer
Um 'M' marca o meu corpo, junto ao meu coração
De Mercedes, de Mãe, deixou a grande lição
De mulher pra mulher é minha declaração
A guerreira da vida me inspirou a canção
Minha intenção é que não seja triste essa canção
Quero apenas mostrar o amor, a garra, determinação
Na minha vida os papeis se inverteram
E as pernas dela, enfraqueceram
Eu que quando pequena fui cuidada, cuidei
Quando ela precisou de banho, a banhei
Comida na boca também servi
E eu creio que é por isso que Deus me pôs aqui
Tentei ser companheira, acredito que consegui
Dois meses direto com ela no hospital, muita coisa eu aprendi
Os corredores recebem esse nome, porque realmente lá "correm-dores"
E por mais que a saúde pública seja precária
estão por amor todos os trabalhadores
Lá ninguém acreditava que minha mãe tava doente
Eles olhavam pra nós e pensavam: "Como é possível passar por isso e continuar sorridente? "
Eu tinha esperanças, orei, pedi a cura e Ele foi fiel
Porque hoje ela tá curada e vivendo lá no céu
E pra mim ficam as lembranças, a saudade, o amor, o exemplo da força
Eu "aprendi que morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio e mãe na sua graça é eternidade, mãe não morre nunca. "
Não morre nunca. Nunca
Compositor: Fernanda Dias de Oliveira Santos (Fernanda Teka)
ECAD: Obra #25916140 Fonograma #33165459