Certa vez, pra um baile eu fui convidado Entrei no fangando de chapéu tapiado Quando olhei num canto, um bicho oitavado Com a adaga na mão e um trinta embalado
Falei pro porteiro: quem é esse safado? Já me respondeu num gesto assustado Te cuida vivente, saia lá prum lado Porque este bicho aqui é respeitado
Falei pro danado sair do salão Já me respondeu pra fora eu não saio E prendeu-lhe a adaga e se eu não saio fora Tinha me atorado, que bicho lacaio
O bicho safado seguiu na anarquia No meio do povo gritava e corria Invadiu o palco e cantou de aprofia Nas caixas de som, subia e descia
Já de madrugada no romper do dia Pegou uma de canha e num canto bebia Com a mão direita empinava a cachaça E com a mão canhota mãozeava as guria
Falei pro danado sair do salão Já me respondeu pra fora eu não saio Dançando borracho, derrubando a roupa Eu nunca vi no mundo outro bicho lacaio
Que bicho matreiro e de raça gaviona Foi no meu cavalo e cortou minha carona Já furou de adaga minhas botas de lona Cruzou pelo fogo e virou minha cambona
Entrou no salão, mexeu com a minha dona Foi botando freio em china redomona Torceu o bigode, tapiou o chapéu Puxou dos talher e partiu minha sanfona
Falei pro danado sair do salão Já me respondeu pra fora eu não saio Que bicho bagaço e de pouca moral Cortô minha cordeona este bugio lacaio