(Meu verso é cheiro de terra Do galpão e da mangueira E o meu talento é a tronquera Que o papai do céu me deu Não vai nascer, nem nasceu Não vai ter, nem tem herdeiro E neste peito missioneiro O xucrismo não morreu)
Meu verso é xucro e bagual É o que o meu povo diz Que eu arranquei com raiz Com torrão e com barranco Mas meu verso é muito franco Embora tenha defeito Meu verso é torto e direito E por isso eu largo no tranco
Meu verso às vezes sai peludo Com casca e ponta de arame Pois talvez alguém reclame Que o verso não é social E que o poeta é bagual Já nasceu de queixo roxo Se criou troteando frouxo E não conhece bocal
(E não conhece mesmo, não é meu amigo Tessé Ortiz? Lá nos pagos do Manuã)
Meus versos as vez sai torcido E outras vez sai trançado Pelo grosso ou pelechado Gateado e as vezes sai mouro Tem risco de aspa de touro Cruzada de refilão Meu verso tem arranhão Tem calo e garra de potro Meu verso às vezes sai ponteado Com lonca de couro cru Da papada do zebu Que é grossa por natureza O meu verso tem franqueza De contar o que converso Por isso eu e meu verso Não encontramos tristeza
Meu verso tem maçaroca Meu verso é cheio de nó Entreverado no pó Que se levanta da estrada De quando passa a boiada Numa tropa ou na carreta É chio de chaleira preta E tem cheiro de carne assada
Meu verso retrata a cuia De chimarrão de erva boa Numa tarde de garoa No mês de agosto agourento Meu verso guarda o lamento Da cordiona voz trocada É sapecado da geada Que se levanta com o vento
Meu verso é a própria faísca Do guarda fogo de angico Meu verso tem canto e pico Tem cinza, tem picumã Meu verso tem crina e lã Meu verso é cheio de rastro E tem o cheiro do pasto No varjedo do Manuã