(“Quem entra em meu escritório vai ver com toda a certeza A miniatura de um carro sobre os livros em minha mesa Por certo vai perguntar qual a razão, por que foi Que o doutor pode adorar um velho carro de boi
É por que foi com um carro pelas estradas a rodar Que meu pai ganhou dinheiro pra eu poder estudar Enquanto ele carreava passando dificuldade Eu devorava as lições nos bancos da faculdade
Por isso eu guardo este carro com orgulho e com amor Por que este carro me deu este anel de doutor Hoje meu pai está velhinho morando em minha mansão Feliz por ter colocado um diploma em minhas mãos
Fechando os olhos parece que eu vejo a estrada sem fim E um velho carro de boi cantando dentro de mim Em meus ouvidos ficaram o gemido de um cocão De um carro de boi rodando nas estradas do sertão
Entre nossas duas vidas existe comparação Hoje eu seguro a caneta como se fosse um ferrão Os riscos de minha escrita sobre as folhas rabiscadas São como os riscos que seu carro deixavam pelas estradas
Os rastros que os bois deixavam naquelas manhãs de inverno São os pingos de meus is nas folhas de meu caderno De meu pai a juventude como um carro de verdade Encalhou no chão do tempo com a grande carga da idade
Minhas mãos estão macias graças as mãos de meu pai Que ainda conserva os calos do tempo que longe vai Cada calo representa um ano pelo sertão Rodando com o velho carro para me dar instrução
Quando a morte carregar meu pai para a eternidade Pela estrada do luar de infinita claridade Cinco estrelas puxarão seu carro no céu azul São as estrelas que formam nosso Cruzeiro do Sul”)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
Compositores: Francisco Gottardi (Sulino), Jose Fortuna (Ze Fortuna) ECAD: Obra #15699 Fonograma #622693