O povo do horizonte, aguarda seu momento Em que as chuvas não levem suas casas E que essas já não sejam elevadas em Bordas de morros, penhascos, beiras de nada
O povo do horizonte, sentado nos calcanhares Sustentam a paciência na fome diária A mesma com que pesca, planta, divide Degustam o sabor de uma riqueza sua Que você não pode entender
O povo do horizonte, não se vê em foto ou vídeo Não está assim, a mostra, mas escondido Não podem vêlo quem assiste, fala ou lê Podem sim, fazêlo, que sai pra dançar em seu meio E tem que ter muita coragem pra dançar
Pra dançar no seu meio, com os pés descalços na rua, Na lama formada pelo esgoto, que corre em direção da represa, onde no verão a garotada vai nadar e se pã vai se afogar,e tem que ter muita coragem
O povo do horizonte, na escola não estuda No hospital não se cura, sente a sina, a surra Mas sorri tão elegante, gargalha trovejante A malicia sorrateira de um lobo uivante
O povo do horizonte, conhece a desigualdade Não sente caricias de justiça e liberdade Mas seguem, rejeitando suas piedade Seguem rejeitando sua cínica caridade Pois sobrevivem respirando dignidade.