Domingo a tarde remuido de cansaço Pus a rede no terraço E balançando adormeci Talvez puxado pelo laço da saudade Sonhei deixando a cidade E voltando onde eu nasci Entre ramagem maqueada de poeira Pela estrada boiadeira Eu cheguei ao por do sol Eu fui pisando sobre a relva verdejante Eu senti por um instante Pisar no verde lençol
Eu vi o gado ruminando na envernada Ouvi um pio na palhada Do Inhambu-Xororó vi a paineira, o curral e o mangueirão Vi o velho carretão Já coberto de cipó Vi as abelhas revoando num enxame Entre a cerca de arame Vi a nascente da mina Lavei o rosto e bebi água com as mãos Contemplando a perfeição Da natureza divina
Vi meu cavalo relinchar na estribaria Dos guardados que um dia Deixei no velho baú Vi barrigueira, chinchador e travessão Que eu mesmo fiz a mão Com completei de couro crú Vi o chapéu, o par de botas e a sineta Uma espora sem rosetas Que eu quebrei num rodeio Eu vi o laço, o berrante e a guaiaca Protegidos pela capa Pendurados no esteio
Eu vi mamãe com o vestido de bola E papai com a viola De cravelhas de madeira Neste momento eu acordei tão tristonho E revivendo meu sonho Eu chorei a noite inteira Tudo que eu vi sei que não reverei mais Porque ao perder meus pais Para tudo disse adeus Mas não lamento meu sofrimento profundo Porque tudo neste mundo É por vontade de Deus
Compositores: Jesus Belmiro Mariano (Jesus Belmiro), Antonio Borges de Alvarenga (Cacique) ECAD: Obra #60133 Fonograma #4693