Eu adorava aquele casal Pareciam feitos um para o outro Trabalhavam, curtiam, se divertiam Aonde um ía o outro ía Eram a minha familia Eles gostavam de mim e eu deles também Até que a gente se dava bem.
Então um dia o sossego do nosso lar foi quebrado Somente um telegrama, meu pai desempregado Ele ficou possesso, completamente irado Depois de um ano emprego de vigia o único que tinha arranjado Minha mãe tentava acalma-lo e ele até bateu nela Jogava tudo quebrava talheres, pratos, panelas Sobrou até pro cachorro Minha mãe pedia socorro Ele derrubou a porta e foi se embreagar Graça ele saiu, pensei que o sofrimento não ía acabar.
Nos dias que se passavam as coisas só pioravam Minha mãe lavava, passava, e o dinheiro nunca dava Eu sem poder fazer nada, só observava Meu pai saía bem cedo emprego nunca arranjava Lavava carro, engraxava mais a miséria aumentava Tinha aluguel, tinha água, conta de luz e comida Um dia eu ouvi falar em tirar a própria vida Eles tentavam é verdade disso sou testemunha Mas o que ganhavam não dava pra porra nenhuma O cachorro morreu de fome E a tv foi vendida Pra nos garantir mais um mês de comida Mesmo com toda essa crise eles não desistiam Por muitas vezes de fome, eles nem dormiam Meu pai era meu herói aquilo sim que era homem Ficou dias sem comer Pra que eu não passasse fome
Até que um dia o desespero enlouqueceu minha mãe Disse não querer pra mim aquela vida sofrida Comida já não havia, agora comiamos lixo Falou que um filho seu jamais seria um bicho
Abriu as pernas com uma haste de metal Me furou, machucou, torceu, dilacerou, estocou A MINHA MÃE ME MATOU