[ponte] Baseado no livro de caco barcelos (ouve-se passos e tiros)
[verso 1] Ainda é cedo Luto pela vida A chuva cai forte Não ameniza As minhas dores Que ainda são as mesmas Ainda é cedo mas, agora sinto medo A minha mente Vagueia pela noite passada Eu nem imaginava Não tinha medo Nada assustava E agora, o que mais quero É voltar pra casa A minha sorte Só vai depender Dos malabarismos Que eu puder fazer
Um grito de socorro Masculino Ninguém vai me ouvir Percebi, tô fu# Mas, ... que lugar é esse? Ainda é cedo? cadê meu relógio? Que dor no peito! Nossa! Aquele é o fábio Aí fábio! Vich... olha o eduardo Expressão de horror tô me lembrando Ainda falta um cadê o adriano?
Me arrasto Não sinto a minha perna direita Um buraco na coxa Dor de cabeça Olha o adriano lá ó! Quase sem rosto Se pá, foi de doze Bem perto do pescoço
Ainda é cedo Cedo Cedo
[refrão] Muito jovem Pra morre ê Não é assim Que tem que ser Mas, é assim Que essa gente Quer você, você Você De miolos estourados Mais um jovem desovado dentro dum matagal Mais uma vitima de ação policial Policial, policial
[verso 2] Não vi motivos Para estar aqui Policia, geral, discussão Ah! Que pesadelo! Parece até que vejo Tudo em branco e preto Sentado no sofá Da sala da minha casa Na tela da tv E a mesma pergunta Por que? Se eu não devo nada Meus manos também não Os quatro fuzilados De bruços no chão
Preciso de ajuda As dores são muitas Meu grito é sufocado Pelo mato e pela chuva Não vejo ruas por aqui Um matagal imenso O local já deve ser usado assim Há muito tempo Ainda é cedo? Nove ou dez da manhã? E os nossos familiares Meus pais, minha irmã Será que nos procuram Nas delegacias No I. m. l, ou Na casa da minha tia?
Será que alguém viu? Ninguém testemunhou? Só tava nois quatro Quando us homi chego Acho que devia sê Meia noite e pouco mais ou menos Meia noite e trinta Se bem me lembro A gente vinha pela rua Trocando idéias O último busão Nos trouxe pra favela Surpresa, a "barca" Tsc... "num devo nada" Vem atrás de nois Na moral apagada
Mandaram encostar De cara pr'uma cerca Um barraco escuro Nenhuma luz acesa R. g não mão, sem passagem, nada consta Só um beozinho do fábio por maconha Cheiraram nossas mãos Sentiram a tabela Só o cheiro não da nada Mas, é guela
Eram quatro fardados Tudo chapado Um preto baixinho Endemoninhado Um ruivo, alto De bigode ralo Não pude ver os outros Não deixaram Tinham armas de sobra Revólveres, pistolas Mais que o armamento Da policia comporta Deram voz de prisão Algemaram a gente Por contravenção É sobrevivente Ainda é cedo
[refrão]
[verso 3] Dentro do camburão O gelo, tensão Nem um pio entre nos Nenhuma reação Circulamos Mais de meia hora Estrada esburacada Dava pra sentir De onde a gente estava pro d. p Era no máximo Dez minutos, po# * Demorou muito Um pm gargalhava Tabela de fumo Não dava pra ver nada Tudo escuro
Paramos, em pânico Ninguém admitia Uma, duas, três Quatro portas se abriam Balbucio de reza Não sei de quem era Só sei que me fez Tremer das pernas Chegaram abriram Quatro demônios Gritavam pra car¥£€# O lugar é estranho A gente foi puxado Pra fora do carro Pelos cabelos Pernas, braços
Jogados no chão Pisoteados Batiam com prazer Queimavam com cigarros Chorar, suplicar Não adiantava Nem "pelo amor de Deus" Nada último ato Cena seis "cara pro chão vagabundo Vai morrer! " Não sei qual que foi Desmaiei, tô vivo Só vi um clarão Eu não sei quantos tiros
Um na perna E o resto eu não quero nem ver cadê a estrada? Preciso viver Se eu morrer assim Não justificaria Sofrer devagar Ficar pro outro dia Com dezenove anos? Não! Ainda é cedo! (canto de pássaro) Esta anoitecendo Talvez, seja só minha visão escurecendo Ouço um pássaro cantar Rasgando o vento
Longe daqui Ninguém vai me salvar Cansei de resistir, mas Não quero me entregar Meu Deus, senhor! Isso não é justo A gente morre assim? E isso é tudo? Quem vai pagar O preço das vidas De quatro pessoas No começo da vida? A lei das pessoas Aqui da terra tá desse jeito Ainda é cedo E eu morrendo
[refrão]
Compositor: Jose Carlos Mendes de Aguiar (Carlo Rappaz) ECAD: Obra #16348365