O amarelo da Carris vai da Alfama à Mouraria, quem diria. Vai da Baixa ao Bairro Alto, trepa à Graça em sobressalto, sem saber geografia.
O amarelo da Carris já teve um avô outrora, que era o "xora". Teve um pai americano, foi inglês por muito ano, só é português agora.
Entram magalas, costureiras; descem senhoras petulantes. Entre a verdade, os peliscos e as peneiras, fica tudo como dantes.
Quero um de quinze p'ra a Pampuia. Já é mais caro este transporte. E qualquer dia, mudo a agulha porque a vida está pela hora da morte.
O amarelo da Carris tem misérias à socapa que ele tapa. Tinha bancos de palhinha, hoje tem cabelos brancos, e os bancos são de napa. No amarelo da Carris já não há "pode seguir" para se ouvir. Hoje o pó que o faz andar é o pó (???) com que ele se foi cobrir.
Quando um rapaz empurra um velho, ou se machuca uma criança, então a gente vê ao espelho o atropelo e a ganância que nos cansa. E quando a malta fica à espera, é que percebe como é: passa à pendura um pendura que não paga e não quer andar a pé.
Entram magalas, costureiras; descem senhoras petulantes. Entre a verdade, os peliscos e as peneiras, fica tudo como dantes. Quero um de quinze p'ra a Pampuia. Já é mais caro este transporte. E qualquer dia, mudo a agulha porque a vida está pela hora da morte.
(dopraca)
Compositores: Jose Carlos Pereira Ary dos Santos (Pereira Carlos), Jose Luis Tinoco ECAD: Obra #14434278 Fonograma #10368778