Frente cavalo! O mouro bufa, troca orelhas desconfiado Levo o buçal, passo o cabresto no pescoço Choveu à noite, é madrugada, mal clareia Já na mangueira a cavalhada que é um colosso Parece aluada, não forma, não cabresteia Morde, coiceia, corre em volta num retoço
Dou mais um passo, falo baixo em tom amigo E o potro arranca enfiando a cara no buçal Firmo o fiador, passo a mão por todo o lombo E volto ao tranco me atolando no barral Junto ao garrão espora grande abrindo rombo Me enverga o rastro replantando esse ritual
Chego ao galpão, agarro as garras despacito Montão de trastes que se fez meu ganha-pão Quando me agacho vem pra boca o barbicacho E alma xucra lambe o sal do coração O potro mouro, por caborteiro de baixo Leva um abraço da maneia mão-a-mão
Depois que encilho, puxo da marca coqueiro Bato na espora, limpo a bota e raspo a sola Quem é ginete tem um nome pra zelar Pois sobre o pasto faz do basto sua escola E quando ata o bocal faz quatro galhos na cola
Bem do meu jeito a preceito me enforquilho De lombo duro o mouro avança e me convida Banco na rédea, ergo o braço e falo manso Ora cavalo, deixa disso e não te olvida O dia é grande, se eu quiser não tem descanso “Bamo arreglar” que é bom pra nós, melhor pra lida
Ah! Como é lindo dois viventes que se entendem E se respeitam cada um pelo que é Irmãos de luta, sempre um carrega o outro Pois com certeza um campeiro quando a pé Dentro do peito traz escramuçando um potro Bandeira pampa, liberdade, herança e fé!
Compositor: José Carlos Batista De Deus / Joca Martins