Não é fácil definir a zona A zona de demarcação do purgatório Tão próximo do paraíso, encostada no inferno toda esta fronteira, é uma via de dupla mão Nem sempre péssima Nem tudo se lastima Nem totalmente ótima Tampouco infeliz Nem sempre lixo, nem tudo rosas Depende pra lado tu aponta o nariz Mas é no mar da minha carne Que essas águas vão misturar Não é só floresta tropical Nem apenas a Mangueira no carnaval Não há ó gente ó não luar como este no sertão Que nunca invade o espaço do camburão A roupa impecável do mestre-sala Compensa os furos do tecido social Um homem velho chora, o sol se cala E tudo segue em sua violência habitual Mas é no mar da minha carne Que essas águas vão se misturar Não é só a natureza esplêndida Cercando as cidades mais estranhas da via-láctea Não é só a simpatia e a alegria dessa gente enfrentando a truculência no dia-a-dia Não é só pandeiro, cavaquinho e violão Não é só pop da televisão Não é só funk no pancadão Escuto outras coisas por aí Mas é no mar da minha carne Que essas águas vão misturar
Compositor: Francisco Eduardo Fagundes Amaral (Chico Amaral) ECAD: Obra #14181552