Não tenho chave, não tenho cartão Não tenho um carro que se safa tranquilo na contramão Não tenho conta, não tenho razão Não tenho aquilo que permite ao cidadão Entrar na lioja, escolher o blusão Botar na frente do espelho, achar que não Sorrir pra todos, pois não, por favor Privilégio é o nome de sua cor não tenho pressa, não tenho patrão não tenho mais que esse pano molhado nas minhas mãos não tenho medo, não tenho noção da mão que comanda o destino da nação não penso nisso nem um segundo não pertenço a qualquer nação do mundo mas te digo, ainda tenho meu valor privilégio é o nome de sua cor não tenho escola, não tenho formação nem sempre me consola esse papo de religião sou lá da serra, sou lá do Cafezal sou lavador de carro no mercado distrital tenho horário, não sou otário, chego cedo lá no asfalto pego o balde, ligo o som do carro estico o meu trablho até o sol se por labuto pra caralho como todo lavador Não tenho som, não tenho celular Mas tenho uma vontade fudida de comprar Ouvir Tupac na hora que eu quiser Nos momentos de tristeza, quando saio pra dar um rolé Estou aqui na rota de colisão Entre fome e a comida, entre a vida e a exclusão Anote e salve em seu computador Privilégio é o nome de sua cor Sem nada disso ainda tenho o meu valor Privilégio é o nome de sua cor