Craveiro e Cravinho
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Meus Quinze Anos

Craveiro e Cravinho


Quando eu tinha quinze ano nem falá eu não sabia
Eu cresci fiquei mocinho nem de casa eu não saía
Fui cantar numa fazenda lá ninguém me conhecia

Peguei a viola afinei fiz a minha cortesia
O povo se admiraro da minha sabedoria
Um povo fanatizado por gostar de cantoria

Lá eu vi uma moreninha tinha a fala tão macia
Eu cantei a noite inteira a moda que ela pedia
Foi conversando com ela fui tomando simpatia

Depois soube que o pai dela era brabo pra famía
Era um véio revortoso roncador de valentia
Eu tava proseando com ele meus zóio tava na fia

Cantei até meia-noite nesse tempo eu não bebia
Peguei entrá no quentão pra fazê um pé de arrelia
Se eu batesse eu tinha gosto se apanhasse eu não sentia

Arrespeito querê bem, no mundo ninguém me vigia
Se eu pudesse eu te levava por todo lugar que eu ia
Até de à par nós sentemo véio fez com que não via

Ela trata um casamento com um moço lá da Bahia
Me chamô pra testemunha coisa que eu não merecia
Me mandou buscar de carro me levou na companhia

O noivo quando me viu ficou cheio de alegria
Eu fiquei muito acanhado por ver tanta cortesia
Mas tive um prazer na vida e ter mais essa regalia

Na hora do casamento pra mim foi uma tirania
Quando o padre perguntô pra ela se ela queria
Ela oiô do meu lado quis falá mas não podia

O seu rosto vermeiava, seus zóio de água enchia
Eu fiz um coração duro só pra vê se arresistia
Eu quis falá mas não pude e a minha voz não saía

A festa foi na cidade todo divertimento havia
No salão tinha um fandango fóra um baile que zunia
Eu fiquei num corredor nem suspiro não saía

A noiva veio e me disse com muita galantaria
Eu hei de dançar contigo nem que seja uma quadria
Que eu fizesse todo esforço que eu não me arrependia

Tive que entrá na sala claro que arresplandecia
Com o cheio e o perfume no salão que recendia
Me tirô no miudinho, me judiô sem ter quantia

Voava pra sala afora como a flor na ventania
Eu chegava ela afastava, ela chegava eu fugia
Pro povo tudo era graça só o noivo é que não ria

Depois eu caí no samba pra vê se me distraía
Ajuntô a morenada só pra vê se me vencia
Saía do braço duma no braço de outra eu caía

Varei a noite levado não vi quando amanhecia
Despedi da Rosa Branca linda flor de maravia
O pobre também tem gosto, quanta muié nesse dia

(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)

Compositor: Zezito Cravinho
ECAD: Obra #22745 Fonograma #110763

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