Suspiro o vento da madrugada. Sorvo a umidade da maresia. Fito o horizonte com olhar de sol nascente. Meus olhos ganham o azul do firmamento A beira-mar.
Soltas no ar, palavras simples. Não guardo mais rancor do dia, Pois não há mais serenidade à noite. A serenidade, amor, roubaste de mim, E agora sofro.
Ao voltar ao lar, deparo-me com o já visto: As luzes da cidade a brilhar como velas, Apagando as estrelas que na Ilha Via tão bem, tão brilhantes, tão magníficas... E efêmeras.
As luzes da cidade não morrem. As pobres estrelas lutam para brilhar com mais força Ante o ofuscante fulgor elétrico sobre o concreto Mas morrem exaustas, esgotadas no esforço De se fazer deslumbrantes.
Agora, ando eu sobre ruas molhadas. Na da Praia, na Voluntários, na Farrapos... Fitando o movimento intenso dos transeuntes Abrigados em guarda-chuvas de lona: Todos hipnotizados.
Andam em quatro-por-quatro, à semifusa, Enquanto eu caio de bossa, dois-por-dois, Sem pressa alguma em viver ou morrer. Neutro em minhas linhas antimusicais, Desperto e lúcido!
A Ilha morreu só. Gravataí morre aos poucos. E Porto Alegre morrerá comigo!