Quando o sol abrilhanta o céu claro O vaqueiro desperta alegremente Põe logo os arreios no cavalo E a cela bordada lindamente Veste a roupa de couro ensebado O paletó é o gibão todo decente É couraça e a sua armadura Pespontado de arreatas na costura É valente, é peão, é casca dura É do mato, é do sertão, é consistente
O vaqueiro só vive para o boi Em função deste boi é que ele vive E de couro sua roupa sempre foi Resistente a espinho do perigo Tem por dentro um forte para-peito As perneiras e as luvas dedo largos Alpercatas trançadas a seu jeito Tem botinas ou sapatão fechados Galopando no oeste potiguar Até o sol ficar todo encarnado
O chapéu de couro na cabeça Que protege do sol e do forte golpe É o símbolo por mais simples que pareça Da vaquejada, da história e do galope Também serve de cuia pra beber água Pra comer o alimento de sustança Pra quebrar sobre o olho na lambança Escondendo seu olhar calmo e faceiro É amor, é emoção o tempo inteiro São as coisas da vida do vaqueiro
A aridez do clima ele domina A agressividade da flora é seu enfeite A periodicidade da seca lhe fascina A esterilidade do solo é seu leite Nas serranias desnudas ele acontece E não é um incipiente domesticado Essa ingrata região não lhe enternece Grotas fundas, tabuleiros e chapadas O cavalo é o companheiro que trabalha Nas veredas que o sertão lhe fornece
E lá vai ele cuidando do seu gado Se embrenhado no mato a procura Do boi que do rebanho separado Se perdia pela caatinga escura Ele dorme ao relento sob o céu Ou na sombra de um pé de juá Alimentando-se de frutos, broto e mel Bebendo água das fontes que brotar Exercitando seus estalos culturais Com rebanhos, independência e currais
Com essa poeira modelou-se o vaqueiro Fez-se homem, e quase nem foi criança Atravessa a vida em artifícios ligeiros Fez-se forte e prático na resignança Compreendeu-se no combate sem trégua Cedo encarou a existência tormentosa No isolamento do ermo ensimesmou-se Se tornando bárbaro, impetuoso e profundo O vaqueiro é guerreiro e assim formou-se Boca da noite se abre e engole o mundo
Compositor: Jose Viana Ramalho (Dude Viana) ECAD: Obra #3043481 Fonograma #1474196