Na solidão hoje vivo a recordar Sinto findar minha vida lentamente Por companhia tenho apenas a saudade Felicidade só nos meus sonhos frequentes
Lá no sertão fui nascido e fui criado Meu pai, coitado, pouco pode dar pra gente Mas apesar da vida dura fui feliz Tudo lhe fiz, não valeu para presente
Desde criança comecei a trabalhar Para ajudar o meu pai fui candeeiro Levantei cedo com o frio da madrugada Eu na invernada campeando os bois carreiros
Já fui peão, já toquei muitas boiadas Pelas estradas destes rincões brasileiros Comi poeira, tomei chuva, sol e vento E no relento já dormi sobre os baixeiros
A minha escola foi a vida nas estradas Cada pancada era sempre uma lição Mal aprendi escrever meu próprio nome A lei dos homens me fez esta privação
Com o progresso asfaltaram as estradas Hoje a boiada viaja de caminhão Restou somente a saudade no meu peito Sou um sujeito que não tem mais profissão
Quando eu vejo minha traia no porão Meu coração parece não resistir Por um momento ouço o som de um berrante No mesmo instante sinto a mente refletir
Vejo a boiada caminhando lentamente Lá no poente vejo o sol se despedir Quando retomo a consciência fico triste Tudo consiste da saudade que sentir