Era amizade de infância Quando eu era piá de estância Guri de cuida cavalo. Eu assobiava uma marca Quando cantavam os galos, Tirei pra mim aquele potro Um não vinha sem o outro Cortando a vida em astilha. O resfolego do pingo, O sono encima da encilha, Era um abraço a lo largo Prá dois loco sem família. No lombo do meu cavalo Tive os mais lindos regalos. Um dia uma lei da estância Mando vende o meu amigo Desde então ninguém me vê, Enforquilhado no estribo!
Um dia partiu o pingo Se foi não me lembro quando, Fiquei banido lá fora Era um bandido sem bando, Eu era um pé sem espora Com a vida me atropelando.
Saia e bebia uns vinho Prá ver a vida voando Te via pelo caminho Perdido me procurando, E não tem nada mais lindo Do que um amigo voltando.
Por isso digo aos meus dias Que escorrem pelo gargalo -vou viver com o pé no estribo Quando encontrar meu cavalo!
Cismo e proseio solito Quando uma gana me puxa, Uma saudade avoenga Me atenta, se faz de bruxa, Mas só quem teve um cavalo Conhece vida gaúcha!
A cerca guarda no grampo Alguma crina de cola, Gaúcho não anda a pé Se anda não se consola, Até a lembrança do potro Me deixa um tanto pachola
O potro era da fazenda Reiuno mesmo só eu, Que passo a vida encilhando Cavalos que não são meus, E quando ganho um relincho Lhes digo, -graças a deus!
Por isso digo aos meus dias Que escorrem pelo gargalo, -vou viver com o pé no estribo Quando encontrar meu cavalo!
O patrão vendeu o potro Como quem apaga um pucho, Um peão nunca diz nada Sentir saudade já é um luxo Anda um cavalo esta hora Com saudade de um gaúcho
Me deixem seguir buscando Por estes campitos ralos Dormir encima da encilha Só pra acordar com os galos E andar cantando o rio grande Só pra esperar meu cavalo!
Por isso digo aos meus dias Que escorrem pelo gargalo, -vou viver com o pé no estribo Quando encontrar meu cavalo!