A ponte da cidade grande aponta Aponta um problema que a gente tenta esconder A ponte da cidade grande é apenas a ponta Do que a gente não vê, do que a gente não vê
Em cima da ponte, um homem querendo pular Embaixo da ponte, um outro querendo comer No meio da ponte, um carro tentando passar E dentro do carro, um homem tentando viver
A ponte da cidade grande aponta Aponta um problema que a gente tenta esconder A ponte da cidade grande é apenas a ponta Do que a gente não vê, do que a gente não vê
De cima da ponte Eu vejo a imensidão da cidade Eu vejo um guindaste Eu vejo o contraste Entre arranha-céu e favela Na fotografia que ela revela E o que o governo releva E quanto dinheiro se leva Para construir uma obra daquela
Da ponte pra lá e de ponte pra cá Existem dois mundos que a ponte separa A ponte é a cara da desigualdade Que causa fascínio e repulsa A ponte que pulsa no pulsar da cidade E que denuncia a calamidade E acolhe aquilo que a sociedade expulsa De baixo da ponte eu vejo dejetos Da vida humana, da vida urbana Eu vejo seus restos, nesse rio tem sujeira de monte De cima da ponte eu vejo o projeto de um arquiteto De fronte eu vejo o horizonte E as nuvens cinzas que cobrem o sol Antes que ele desponte
A ponte é a tela que pinta a paisagem social Com veracidade E aquilo que a ponte revela É o cartão postal mais fiel da cidade
A ponte da cidade grande aponta Aponta um problema que a gente tenta esconder A ponte da cidade grande é apenas a ponta Do que a gente não vê, do que a gente não vê
Compositor: Fabio Reboucas de Azeredo (Fabio Brazza) ECAD: Obra #19340878 Fonograma #16355471