Choro de manhã, rio de noitão Que será, será? Quem viver, verão.
Sabe, morena, Essa praia chamada Ipanema? Sabe essa lua, essa cena Essa luz de cinema Esse eterno verão? Pois é, sabe, morena, O negócio aqui nunca foi fácil Desde a chegada de Estácio Em Primeiro de Março No Cara de Cão. Sabe o monarca balofo Que armou seu cafofo No fofo do Paço Imperial? E na partida levou a mobília O chofer e a família Prá ver Portugal? Sabe o pirata francês Que roubou a cidade, E inda de quebra ganhou um resgate De mais de 600 barões? Sabe o solar da marquesa O bordel da francesa, o boquete, etc. e tal?
Sabe essa gente surfando ou pingente No trem da Central? Pois é, sabe, morena, Eu não troco esse Rio por nada Mesmo levando flechada Tomei mais pancada que o Villegaignon tomou Sabe, morena, eu às vezes me encanto com tudo Mesmo com tanto urubu enfiando canudo No nosso pirão Sabe essa praia, essa areia, esse bar Esse mar, esse beijo, esse desejo atroz? Sabe a visão da janela Esse clima, esse Cristo lá em cima Que vela por nós? Sabe, morena, se existe outra vida, eu declaro: Quero esse mesmo calor, esse mesmo esplendor Essa fascinação Quero por felicidade Esse mesmo cenário, só quero morrer de paixão Quero encarnar outra vez Na cidade de São Sebastião.
Choro de manhã, rio de noitão Que será, será? Quem viver, verão.
Quando alguém dá corda Nas cordas da memória A gente se recorda das voltas & revoltas da História Deste país de loucos Onde andam tubarões e outros barões Aos trocos e barrocos No samba-lelê, samba-lalá Quero mamãe, quero mamãe Quero mamar.
Choro de manhã, rio de noitão Que será, será? Quem viver, verão.