Gero Camilo
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Jobinamente

Gero Camilo


Eu sou de cada um um pouco
um pouco amontoado
que faz morro, mirante favela do mar
imensa onda urbana
conjurando eterna esperança

eu sou de cada um um pouco
um pouco amontoado
que faz morro, mirante favela do mar
imensa onda urbana
conjurando eterna esperança

E se a mudança só vir
no fim do verão
é que as águas de março são
Jobinamente...
As águas de março são
Jobinamente em vão...

Eu sou de cada um um pouco
Um pouco amontoado
que faz morro, mirante favela do mar
imensa onda urbana
conjurando eterna esperança

E se a mudança só vir
no fim do verão
é que as águas de março são
Jobinamente...
As águas de março são
Jobinamente em vão...
As águas de março são
Jobinamente em vão...
As águas de março são
Jobinamente em vão...

Chove em São Paulo
Como tem sido mesmo não fosse verão
São Paulo envelhece a gotas de chuva
Se estas águas são de fevereiro
que dirão as de março?
Chove muito em São Paulo
Arregaço a boca da perna da calça
Arregaço o botão do peito
Que horas são?
Horas pra que, se chove em São Paulo?
O rio agora que te ouviu, ê vem vindo
grande e sujo lavar teus pés
Diluvia!

Lá se vai um par de botinas
com ratinhos marinheiros pestilentos descendo as ruas
despencando num cobertor de lamas flores roxas e girassóis
e cachorrinhos quentes, sem madames
Diluvia!

Passa boi, passa boiada,
E as caravelinhas de lata
Milhões delas, com famílias, executivos, estudantes cabulados, sogras, servos do prefeito
o amante, a casada,
Os operários alagados, a classe média deslavada
Todos navegando em dia de rodízio
sobre a água que cai em gotas e sobe em Larva
Essa cidade, meus senhores, nem vos conto...
Diluvia!

Chove em São Paulo,
eu corro pequeno dando saltos nas calçadas
desviando das pedras de gelo, dos guarda-chuvas quebrados
dos mosaicos pichados...
foram mendigos que passaram por nós
e mergulharam nos bueiros,
na lama que sobe, meus irmãos, pois chove há dias?
Não, não devem ter sido mendigos,
não cabem em bueiros...
Diluvía!

As marginais desmarginaram
O que há de ser salvo, diluvía.
O que há de ser correria, diluvia.
Diluvia rombos públicos,
Bancos públicos,
Violência pública,
Estado privado
Saúde privada
Comida privada
Diluvia lama do suor das moedas
Da tintura das cédulas
Diluvia, diluvia!

Vê-se das casas grandes as casas pobres
descendo rio abaixo.
As rachaduras no céu vazam,
os cofres, meus irmãos
ficam no alto.
Diluvia Anhangabaú!
Senhores, a República afundou.

Compositores: Paulo Rogerio da Silva (Gero Camilo), Cristiano Karnas
ECAD: Obra #3944208

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