Uma coisa me tocou bem fundo
Eu nem mesmo sequer esperava
Ao abrir aquele guarda roupas
Entre as coisas que mamãe guardava
Encontrei uma velha camisa
Pelos anos de uso surrada
Eu lembrei que era uma daquelas
Que meu pai quase sempre usava
Nos seus ombros olhei o tecido e notei
Que ela estava rasgada
Pelo atrito que fez a madeira
Que por ele foram carregadas

Eu sentei na beirada da cama
E me pus a lembrar do passado
Da labuta que de sol a sol o meu pai trabalhou no pesado
Seu suor já molhou a camisa
No grosseiro labor de um machado
Conheceu o prazer de sua vida
Na rotina de lidar com o gado
Muitas vezes pensando nos filhos
Seu desejo foi abandonado
E de herança nos deixou também seu caráter
Pra sempre legado

Entendi os corretos motivos dela estar ali dependurada
E não foi entre aquelas que um dia
Aos abrigos seriam doadas
Pra vestir outras tantas pessoas
Muitas delas tão necessitadas
Minha mãe escolheu as mais novas
E algumas nem sequer usadas
Mas ali no cantinho guardado permanece ainda intocada
A que tinha maior importância
Um arquivo de boas lembranças
Esta antiga camisa surrada!