Ando de poncho encharcado Por estas chuvas de julho E ainda escuto o barulho Das águas crescendo a sanca Faz pouco a várzea estendeu-se Pra lá do arame do meio E o passo ficou bem feio De não cruzar os bois na canga
Um novo tempo armou-se Escureceu a banda oeste Embora pouco nos reste Não há de esperar por nada Estender poncho e pelego Abrir porteira e alambrado Pra não tirar gado a nado De algum rincão da invernada
(No outro ano que a enchente Ponteou a várzea do fundo Parecia até que o mundo Descia junto com ela Quem tava quieto nas casa Mateando a tarde em floreio Avistava o arroio cheio Bombeando pela janela)
De longe até meus gateados Andam lobunos, por conta Da chuva que lhes reponta E bota os mansos na forma Beirando os fios do alambrado Perfilados um por um No mesmo instinto comum Do tempo que dita as normas
Até o galpão que garante Sempre os desmandos do céu Anda sentindo o tropéu Quando a chuva é galopeada Forceja a quincha do norte Na turubamba de patas Mas não se rende às bravatas É feito de alma e morada
(E o dia mais uma vez Batendo água se estende E a gente então compreende Que a própria vida é assim Se vai o tempo por conta Por onde o outro deságua E o poncho ainda guarda as águas Que o julho tinha pra mim)
Compositores: Jari Lourenzo Terres Junior (Jari Terres Jr.), Paulo Henrique Teixeira de Souza (Gujo Teixeira) ECAD: Obra #1124924 Fonograma #666724