Empurra a cancela Zé Abre o curral da verdade Pra mostrar pra mocidade Como é que vive um Zé Sem um conforto sequer Com sua latas furadas E a cacimba tão distante Um Zé arame farpante Feito de gente e de fé.
O Zé que se aprisiona Aos cacos velhos da enxada Que nasce herdeiro do nada E qualquer lado é seu caminho Medalhas, são seus espinhos Quedas de bois são batalhas Seus braços, duas cangalhas De taipa e barro é seu ninho.
O Zé metido em gibão Numa besta atrás dum boi Por entre as juremas pretas Por onde o bicho se foi A poder de grito e ois Peitando graveto torto Um dos três vai sair morto Ou ele, a besta ou o boi.
É cabôco elefantado Que não tem medo de cruz Que fita o sol faiscando Dez mil peixeiras de luz O Zé que assim se conduz Nas brenhas deste sertão O Zé Ninguém, Zé Qualquer Mas o Qualquer desse Zé Não é qualquer qualquer não.
É um Qualquer niquelado Acabestrado num Zé Não é Zé pra qualquer nome Nem Qualquer pra qualquer Zé Diante desses apois Eu vou dizer quem tu sois Pode escrever se quiser:
Sois argumento de foice Sois riacho correntoso Tu sois carquejo espinhoso Sois calo de coronel Sois cor de barro a granel Sois couro bom que não mofa Sois um doutor sem farofa Sem soqueira de anel.
Sois umbuzeiro de estrada Sois ninho de carcará Sois folha seca, sois galho Sois fulô de se cheirar Sois fruto doce e azedo Sois raiz que logo cedo Quer terra pra se enfiar.
No inverno sois caçote Espelho de céu no chão Chorrochochó de biqueira Espuma de cachoeira Sois lodo, sois timbungão Sois nuvem quebrando a barra Violino de cigarra Afinando a chiação.
Sois bafo de cuscuzeira Sois caldo de milho quente Sois a canjica do milho Sois milho pessoalmente Tu sois forte no batente Tu sois como milho assado Se não for bem mastigado Sai inteirinho da gente.
Tu desarruma as tristezas Caçando uma risadinha Sois doido, doido tu sois Tu sois um baião-de-dois Tu sois pirão de farinha Sois bruto que se ameiga No amor tu sois manteiga Numa creamecrackerzinha.
Sois um Zé Qualquer do mato Provador de amargor Tu sois urro, sois maciço Devoto do padre Ciço Sois matuto rezador O Zé Qualquer em pessoa Marido de Chica Boa O teu verdadeiro amor.
É Francisca Caliméria Feliciana Qualquer Chica Boa é apelido Pode chamar quem quiser Mas digo as outras pessoas Não digam que Chica "É" boa O cabra que assim caçoa Vê direitim quem é Zé.