Não consentem os deuses mais que a vida. (17-7-1914)
Não consentem os deuses mais que a vida. Tudo pois refusemos, que nos alce A irrespiráveis píncaros, Perenes sem ter flores. Só de aceitar tenhamos a ciência, E, enquanto bate o sangue em nossas fontes, Nem se engelha connosco O mesmo amor, duremos, Como vidros, às luzes transparentes E deixando escorrer a chuva triste, Só mornos ao sol quente, E reflectindo um pouco.
Como se cada beijo (17-11-1923)
Como se cada beijo Fora de despedida, Minha Cloé, beijemo-nos, amando. Talvez que já nos toque No ombro a mão, que chama À barca que não vem senão vazia; E que no mesmo feixe Ata o que mútuos fomos E a alheia soma universal da vida.
O ritmo antigo que há em pés descalços, (9-8-1914)
Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que escura a espuma deixa; vós, infantes, Que inda não tendes cura De ter cura, responde Ruidosa a roda, enquanto arqueia Apolo, Como um ramo alto, a curva azul que doura, E a perene maré Flui, enchente ou vazante.
Ponho na altiva mente o fixo esforço (s.d.)
Ponho na altiva mente o fixo esforço Da altura, e à sorte deixo, E as suas leis, o verso; Que, quando é alto e régio o pensamento, Súbdita a frase o busca E o escravo ritmo o serve.