Tu vieste pelo elevador, vinhas do andar de cima Se é que não estou em erro Habitávamos o mesmo prédio e eu achei-te apenas atraente Nessa altura as coisas íam mal entre a minha mulher e eu Foi ela quem te convidou Ou então foi um amigo comum e isso agora é indiferente
Sei que pouco depois a viagem que eu tinha andado a adiar Se concretizou Não chegamos a conher-nos bem, pelo menos nessa ocasião Quando voltei dois anos mais tarde encontrei-te nas prais do sul Estavas resplandescente Com a vida a dançar-te no olhar ao mesmo tempo trágico e gozão
Há momentos flagrantes Em que o tempo é eterno Há vestigisos do verão Que o outono não pode apagar Há encontros que ficam Na nossa memória Onde a luz é difusa Onde a vida e a morte não se querem separar
Ainda tenho presente um jantar em que havia mais gente Mas não recordo quem Entre o cheiro da sardinha e a loucuro do vinho sobresaiste tu Porque a certa altura houve um gesto teu, uma frase ou uma canção Provavelmente do alentejo Foi isso mesmo, cantaste e o mundo ficou nu
E eu fiquei a saber de oude vens, tu saiste da cepa Que a carne e o sangue veneram Havias de achar muita graça se me ouvisses falar assim Nós não descobrimos nada, dir-me-ias tu, está tudo descoberto Até a rota do cabo Vamos antes brincar ao gato e ao rato até ao fim