Calo e não falo de medo Calos na ponta dos dedos Arranco a pele no dente Não aponto mais estrelas
Não fecho nem bato gavetas Lavo mágoas Traço metas semestrais Finjo, não guardo segredos Nego, não meço conselhos Rasgo a carne no dente Carrego um cravo no bolso Esqueço as portas abertas Deixo pegadas Não acho nada demais em vagões Trago, não mando recados Fumo o cigarro dos outros Olho por cima das lentes Faço e desfaço no ato Desato o nó dos meus dedos Um passo em falso E caio fora do laço Ando caminhos inteiros Escolho as ruas erradas Corto os lábios no dente Desenho palavras no rosto Aqueço os pés na coberta
Digo nada Nem vejo nada demais em vagões Durmo e acordo mais magro Cavo um buraco, me enterro Arrasto grossas correntes Desperto sempre cansado E torço grades de ferro Guardo migalhas Vivo pequenos desertos Levanto e sento ligeiro Sento e levanto de novo Escrevo cartas urgentes Nasci com os olhos fechados Só durmo de luz acesa De madrugada
Carrego o corpo e a saudade em vagões Esquento os ossos no fogo Almoço livros e discos Uso camisas e pentes Cuspo sementes e salmos Atravessando os ouvidos Rotas e mares Compro velas e cristais Tropeço nos móveis da sala Prefiro insetos pequenos Procuro um verso decente Corro e não fico parado Calado, falo sozinho Penso mais alto Não acho nada demais em vagões
Compositor: Juliano Ferreira Holanda de Melo (Juliano Holanda) ECAD: Obra #12564656 Fonograma #2502301