Julio Saldanha
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Noite de Geada

Julio Saldanha


A lua cheia e prateada
Cobre o campo que se expande,
Na noite quieta e gelada,
PrenĂșncio de geada grande.
Nem mesmo um pio corujento
Se ouve nesta invernia,
Êta julho friolento,
Que até a alma se arrepia!

Me enrolo no bicharĂĄ,
Sentado ao pé do braseiro,
Entregue ao “Deus dará”,
SĂł um "baio" por parceiro.
Meu catre frio, lĂĄ no canto,
NĂŁo me encoraja a deitar,
Por mim, fico aqui no banco
Até o dia clarear.

Atiço o fogo de chão
Pra “mode” de não morrer,
Enquanto, cĂĄ no galpĂŁo,
Pelas frinchas, posso ver
O belo clarĂŁo da lua
Que alumia as invernadas,
Enquanto a pampa nua
Vai se cobrindo de geada.

A noite Ă© linda por certo,
De inspirar os cantores,
Mas, pra quem anda liberto
De paixÔes e de amores,
A beleza do momento
Não aquece o coração,
Pois o frio brota de dentro,
Do medo da solidĂŁo.

Nessas noites de inverno
Tenho ganas de ausĂȘncia,
Pois sinto perder o cerno
Nos julhos desta querĂȘncia.
Se nĂŁo fosse este apego,
Que se tem dentro da gente,
Tinha me alçado mais cedo,
Pra outro pago mais quente.

Mas quem vive na campanha
E tem a lida por sina,
NĂŁo adianta fazer manha
Porque a vida lhe arrocina.
Por isso jĂĄ me imagino,
AmanhĂŁ quebrando geada,
No reponte do destino,
Pechando boi na invernada.

Compositores: Nelcy Moraes de Vargas (Nelcy Vargas), Julio Gaspar Noronha Saldanha (Julio Saldanha), Valter Luiz Fiorenza
ECAD: Obra #1638580 Fonograma #998591

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