Nem sempre vai ser assim Um dia você vai chegar em casa de noite Deitar no sofá com os pés pra cima e respirar fundo
O som da rua parece muito distante E o primeiro ônibus da manhã passa Apesar disso parece que você é a única pessoa acordada agora Faz frio, mas você gosta do frio Ele faz você sentir seus limites, seu alcance
Cê vai chegar da rua e perceber que a noite passou como um sonho E que a vida começa quando a gente fecha os olhos E cê vai ser feliz quando fechar os olhos Vai parar de dormir virado de costas pro mundo E não vai mais acordar com a garganta inflamada Finalmente cê parou de perceber a distância E agora se sente inteiro de novo Mas cê não vai pensar tanto nisso pra não perder a sensação no espaço entre as suas unhas
(Onde as coisas são tão fáceis de escapar)
Seus amigos tavam lá antes Mas só agora cê consegue se sentir grato por ter eles Era como um chão invisível, sem eles cê teria caído muito mais fundo e cê já acha que foi fundo demais, imagina então
Pois é, mas quando a gente esquece da distância A gente lembra de vez em quando E dá aquele medo de tudo voltar de novo Mas nunca volta do mesmo jeito É só o alívio que fica
Nem sempre vai ser assim Às vezes cês vão trombar na rua e não vai ser tão complicado Um dia cês vão encontrar numa festa depois de uns anos e vão conversar sobre o tempo das coisas Sobre tudo que veio depois, mas sem muito detalhe Cês já se conheceram bem demais, e é fácil ler uma pessoa que a gente conhece independente do tempo que for Pode até ser estranho, e vai ser, mas não é muito incomodo não É uma daquelas coisas inevitáveis quando se passa tempo demais com alguém Cês sempre vão ser parte um do outro
Talvez você queira provar alguma coisa Quando a gente admira alguém sempre tem isso né Essa vontade de mostrar que as coisas andam bem Mas se no primeiro lugar elas estivessem tão bem Por que você teria tanta vontade de mostrar isso Sua cabeça confusa diz que é hora de ir embora E vocês não vão despedir um do outro
Mas não é por vergonha não É porque não tem cerimônia mesmo Não é por vergonha Ninguém precisa despedir de todo mundo
Nem sempre vai ser assim Cê vai encontrar um recado dentro do seu armário que diz (Aqui tá o beijo que eu não posso te dar) E aquilo vai deixar seus olhos marejados Mesmo você não sabendo muito porque E a intimidade daquilo faz você guardar aquele papel pra sempre Bem onde cê encontrou Aquilo foi especial pra alguém Em algum momento E em algum lugar As coisas às vezes se alinham E as memórias gostam de guardar esses momentos Quando as coisas se completam
E aí Quando cê chegar em casa de madrugada e deitar no sofá com os pés pra cima Cê vai querer abrir seu armário e procurar alguma coisa ali dentro Mas cê se conhece bem demais agora e evita esse tipo de momento
A dignidade constrói montanhas Mas também sepulta os corpos que a construíram E hoje é isso que você me diz
Mas nem sempre vai ser assim
Compositores: Gabriel Lamounier e Souza, Fabio de Carvalho Penido (Fabio de Carvalho) ECAD: Obra #25433789 Fonograma #20559013