Léo Almeida
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O Vento e o Payador

Léo Almeida


O vento caminhador
Cantava porque era vento
Mas faltava o sentimento
Que vem do mundo interior
E ouvindo coplas de amor
Desde a mais xucra à mais doce
Porque era vento, adonou-se
Do canto do payador

A terra que me pariu
Do ventre da geografia
Com certeza não sabia
Qual ia ser meu feitio
Se era campo, se era rio
Berro, trovão ou relincho
Ou candeeiro de bochincho
Queimando só no pavio

Decerto a velha parteira
Quando me banhou, piazinho
Ia assoviando baixinho
Uma milonga campeira
Ou quem sabe a mamadeira
Depois que deixei o seio
Era apojo de rodeio
De alguma tigra tambeira

Daí talvez, esta ânsia
Daí talvez, este entono
De não ter dona nem dono
E me agrandar na distância
Talvez daí a circunstância
Dos meus instintos selvagens
De andar rastreando mensagens
Que se extraviaram na infância

Sempre existe algum refugo
Por buena que a tropa seja
Vaqueano de sina andeja
Jamais me tornei verdugo
Não me vendo, não me alugo
Pra mim o mundo é pequeno
E as lágrimas de sereno
Que a noite chora... eu enxugo

Depois de enxugar o pranto
De tantas noites serenas
Foram ficando terrenas
As deusas do meu encanto
Por isso, quando levanto
Meus versos ao firmamento
Não sou mais que a voz do vento
Que se adonou do meu canto

Compositores: Jayme Caetano Braun, Raul Eduardo Pereyra (Talo Pereyra)
ECAD: Obra #2821988 Fonograma #360945

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