Exílio
É como se ainda existisse o exílio
E fosse tirado tudo de mim
É como se eu levasse o tiro
Que foi destinado ao martim.
E o mundo não se importasse com nada,
E não existissem direitos humanos
A tua ausência é a porta fechada
No frio calabouço de amores insanos
É como se ainda existisse o martírio
E fosse acoplado o suplicio em mim
É como se'u fosse o destino de um filho
Que não vingou por não ser ruim
E o mundo não se envergonhasse de nada
E não houvesse comoção mundial
A tua ausência é a dor enjaulada
Da fera que se assusta no próprio quintal
E o mundo me quisesse mundana
E eu fosse santa, um pagão sem igual
Lutando contra uma força tirana
Que mancha meus verdes olhos tachados em jornal
É como se existem negreiros ainda
Ferrolhos de pedra humilhando uma irmã
E eu fosse a tarde que finda,
Num cruel labirinto de alma malçã
E o mundo não se importasse com nada
E não existissem mais que cores vãs
A anistia fosse não inventada
Um tempo de achar doido qualquer coisa sã.
É como se ainda existisse o exílio
E fosse tirado tudo de mim
É como se eu recebesse o tiro
Que foi destinado a qualquer querubim.
E o mundo não se importasse com nada
E não existissem direitos humanos
A tua ausência me fosse apunhalada
E não existissem resgates, médicos ou panos
E o mundo não se importasse com nada
E não existisse desejos cristãos
E o mundo não fosse mais que uma parada
Um auto-exílio em forma de solidão.
Compositor: Leonia Maria de Oliveira (Leonia Oliveira)
ECAD: Obra #30062051Ouça estações relacionadas a Leonia Oliveira no Vagalume.FM