Quem me vê fazendo frete Neste arrabalde sem fim Picaneando um mouro magro Pisado dos balancins Não diz que eu fui fazendeiro Que eu tive sebo no rim E esta história que hoje conto Que é minha e de tantos outros É mais ou menos assim
Tive um rebanho merino Que o velo era um camoatim Usava carneiro fino Num campo que era um jardim A lã pegou a valer pouco O povo só usa brim Começou a escassear minha renda Fui despovoando a fazenda Taí o início do fim
Meu gado que eu cuidei tanto Deu lucro mas não pra mim Vendi mas não me pagaram Processei uns “graxaim” O que eu não tinha vendido O advogado deu fim Ficou vazia a fazenda Tem dor que não se remenda E é dessas que dói em mim
Meu mouro marca de fisga Deus não fabrica outro assim Cogote de ganso macho “Zoreia” de graxaim Pra não vender pro salame Veio também quando eu vim Foi pra charrete meu mouro Que antes pechava touro Por cima dos “alecrim”
E a mão pra vir pra miséria O governo deu pra mim Prometeu financiamento Com um jurinho chinfrim Virei meus campos de arado Plantei milho e amendoim A seca ajudou o banco O banco ficou com o campo E a vila ficou pra mim
Só conto pra que conclua Que quem produz tá na pua E há muito tempo é assim!
Compositores: Luiz Carlos do Nascimento Borges (Luiz Carlos Borges), Mauro Raimundi Ferreira ECAD: Obra #3058880 Fonograma #39939