Levantei um dia cedo Sentei na cama chorando Meu velho tempo de peão Nervoso eu fiquei lembrando Senti uma dor no peito Igual brasa me queimando Ouvi uma voz lá fora Parece que me chamando Eu tive um pressentimento Que a morte na voz do vento Ali estava me rondando
Eu saí lá pro terreiro Lembrei as glórias passadas Me vi montado num potro Correndo nas invernadas Também vi um lenço acenando De alguém que foi minha amada Que há tempos se despediu Pra derradeira morada Tive um desgosto medonho Ao ver que tudo era um sonho E hoje não sou mais nada
Pobre de quem nessa vida Na velhice não pensou Ao me ver velho e doente Um filho me amparou Recebo tanta indireta Da nora que não gostou E meu netinho inocente Chorando já me falou A mamãe já deu estrilo Disse, aqui não é asilo Mas eu gosto do senhor, ai
Nesse meu rosto cansado Queimado pelo mormaço Duas lágrimas correram Espelho do meu fracasso É o prêmio de quem na vida Não quis acertar o passo Abre os olhos muito tarde Quando já era um bagaço Vejam só a situação, ai De quem foi o rei dos peão E hoje não pode com o laço
A Deus eu fiz uma prece Pedindo pros companheiros Que perdoe todas as faltas Desse peão velho estradeiro Quando eu deixar esse mundo Meu pedido derradeiro Desejo ser enterrado Na sombra de um angiqueiro Para ouvir de quando em quando As boiadas ali passando E os gritos dos boiadeiros
Compositores: Francisco Gottardi (Sulino), Teddy Vieira Azevedo (Teddy Vieira) ECAD: Obra #33554 Fonograma #285162