Aqui me ponho a cantar Ao compasso da guitarra Que o índio que se desgarra Nunca mais pode parar Viver é contrapontear Na tristeza onde se atola Sem jamais pedir esmola Nem carinho, nem perdão, Pois abrindo o coração É que o guasca se consola
E adonde venho respondo: Sou da pampa e do varzedo Guri criado sem medo De cobra ou de marimbondo Eu sei que o mundo é redondo No seu arrodear sem fim Índio pobre, e mesmo assim Me alimento com meu canto Tantos são donos de tanto Ninguém é dono de mim
(Talvez por ser prisioneiro Das ânsias e rebeldias De andar as noites e os dias Rondando como tropeiro Talvez por ser guitarrero Criado sem protovolo Desde que mamei no colo Da mama bugra campeira Trago a alma prisioneira Das coisas que vêm do solo)
Enquanto houver um paisano Que ponteie uma guitarra Enquanto houver uma garra No lombo de um orelhano Enquanto houver um pampeano Guardando o sagrado estilo Eu hei de seguir tranqüilo Sem galopear, não me apuro Porque quanto mais escuro Mais claro é o canto do grilo
E quando eu me for, indiada, Não quero mágoa nem choro Não vai fazer falta um touro Há tantos nesta invernada Um 'Deus te salve', mais nada Quando souberem: morreu Já podem saber que eu Que esbanjei tantos carinhos Ando a campear nos caminhos O que eu quis ser e não deu Ando a campear nos caminhos O que eu quis ser e não deu
Compositores: Jayme Caetano Braun, Luis Rogerio Marenco Ferran (Luis Marenco) ECAD: Obra #197582 Fonograma #1326655