Holofote riscando a treva aberta Suicídio da luz no breu sem fim Iluminando tudo ao redor de mim Tenho o riso febril de quem se oferta Sou pedaço de terra descoberta Por um navegador que sou eu mesmo E por mais que a nau viaje à esmo Em meu peito a rota é sempre certa
Eu sou um girassol e busco a luz Mas nasci dentro de uma caverna Com algema de folhas presa a perna E horizonte nenhum que me guiasse Eu pensei que aí tudo acabasse Quando em mim teu amor fez moradia Asteou esse sol que acenderia O planeta inteiro se precisasse
Eu sou um girassol indignado E a voz que me rege é a verdade Minhas pétalas clamam liberdade Para o meu coração agoniado Nesse circo de arame farpado Palhaço de poucas ilusões Cantando na festa dos leões Com metade do riso amordaçado
Bastaria vagar pela cidade Para ver a angústia em cada face E por mais que os olhos eu fechasse Sentiria o cheiro da carniça E o dedo maior da mão postiça Semeou pelas praças, pelos becos Quem chorava já tem os olhos secos De esperar os fantasmas da justiça
Eu não li o epílogo da peça Mas pressinto no jeito dos atores O começo do fim desses horrores A maldade que na razão tropeça E o circo da história já tem pressa Pra bater o martelo contra a mesa E cantar voz bem alta à natureza Esse sol exilado que regressa
Compositor: Luiz de Franca Guilherme de Queiroga (Luiz Queiroga) ECAD: Obra #452794 Fonograma #268997