Passei ontem pela rua onde morava A cantada e recantada Mariquinhas E qual não é o meu espanto, olho e vejo por encanto Outra vez lá nas janelas, tabuínhas Corri e bati á porta, e até fiquei quase morta Quando ela se abriu pelas alminhas Pois quem veio a porta abrir e a sorrir Era mesmo a Mariquinhas
Ai a Mariquinhas está tão linda! Está mais gordinha! ... pesa 100 kilos Mas como gordura é formusura Ela não se importa nada com isso Estava a comer jaquinzinhos
Eu entrei e abracei a Mariquinhas Que me contou que um senhor de falas finas Lhe deu a casa que é sua, pôs o prego na rua E correu com o tal senhor que era lingrinhas Mandou caiar as paredes Pôs cortinados de chita nas janelas tão bonitas, ás bolinhas E por fora, p'ra chatear as vizinhas Janelas com tabuínhas
Bem feito! ... lá na rua ficaram todas danadas Agora já não podem deitar para lá os mirones... é claro De que é que ela se foi lembrar! É uma grande camarada, a Mariquinhas
Já tiraram os caixilhos às voltinhas E as janelas já estão todas catitinhas E p'ra afastar os temores dos enguiços dos penhores Defumou a casa toda com ervinhas Pôs incenso das igrejas E p'ra acabar c'oas invejas Pôs um chifre atrás da porta... às voltinhas E na cama, uma colcha feita á mão, debruada com bolinhas
Ai... a Mariquinhas é muito prendada Estava a fazer uma colcha toda em crochet Jé ma ofereceu! ... diz que é para eu estrear no Natal A colcha pesa 50 kilos Já me estou a ver pela porta fora com a colcha ás costas
Lá está tudo, tudo, tudo, até o xaile E a guitarra enfeitada com fitinhas E sob a cama, reparo... um peniquinho de barro Qu é bonito e pintadinho com florinhas E eu fiquei tão contente, que ficamos calmamente A beber até de manhã, umas pinguinhas Pois agora volta tudo ao tempo antigo Na casa da Mariquinhas
Composição: Alberto Janes e Manuel Paião / Eduardo Damas