Já tenho barba grande mãe Não posso mais brincar Vou pra cidade grande mãe Eu tenho que tentar
Aqui tem gente estranha O tempo todo é assim Doutor me acha bandido mãe Quando passa por mim
Ah, eu sinto saudades mãe De ir pra roça a pé E de sentar na estrada mãe Pra vê a boiada passar
Vovô já foi embora Ficou carro de boi Me ensinou tantas coisas A ser como ele foi
Me dão coisas estranhas mãe Dizem que é bom pra esquecer Ai esqueço tudo mãe Sinto minha vista escurecer
Vejo vovô no quintal Por um instante e num instante tudo vai, tudo vai, tudo vai
Tenho saudades do vendedor da igreja Da casa de varanda Do gado na cocheira Bolo e fogão de lenha Novena no natal Família reunida Dos primos dos amigos Das árvores, dos sonhos Das aves no quintal Das festas aos domingos Da escolinha à tarde Das tias das canções Da reza junto à mesa Do sótão da represa E do primeiro amor
Eu vou voltar pra casa mãe Eu já me arrependi Mas não vai ser como era antes Agora eu sei como acontece Eu sei o que acontece Queria não saber
O tempo passa Eu sei que passa E a gente vai embora E a gente lembra agora Que ainda há lá fora Coisas pra descobrir
Os anos são os mesmos Os homens são os mesmos E eu tenho meu emprego
Eu ando pelos bares E ouço o que me dizem Até quando não dizem nada