Marcelo Nova

Noite

Marcelo Nova


O vento chega, sopra seco e afiado
Vem batendo tão pesado, quer nocautear a noite
Dos quartos saem gemidos disfarçados
E arranha-céus desesperados

Apontam pra barriga da noite
Noite, talvez pelo seu tamanho
Me faz sentir um corpo estranho
Não lhe posso pertencer

Noite, eu lhe adoro e lhe detesto
Mas me conformo com o seu resto
O dia que vai nascer

Carros possuem olhos sempre acessos
Atropelam qualquer medo, buzinando nos ouvidos da noite
Mendigos com seus passos vagabundos
De remorsos tão profundos, cospem na cara da noite
Noite, talvez pelo seu tamanho
Me faz sentir um corpo estranho
Não lhe posso pertencer

Noite, eu lhe adoro e lhe detesto
Mas me conformo com o seu resto
O dia que vai nascer

Gritos, cortam o peito do silêncio
Murmúrios de nervos tão tensos
Ecoam na calada da noite
Prostitutas de insônia atrevida
Com corujas escondidas
Em baixo das saias da noite
Noite, talvez pelo seu tamanho
Me faz sentir um corpo estranho
Não lhe posso pertencer

Noite, eu lhe adoro e lhe detesto
Mas me conformo com o seu resto
O dia que vai nascer

Chuva de água mole em pedra dura
Viaja em nuvens tão escuras
Urinando na boca da noite
Cães vadios rosnam por sua fatia
E vingam sua hidrofobia,
Mordendo as pernas da noite
Noite, talvez pelo seu tamanho
Me faz sentir um corpo estranho
Não lhe posso pertencer

Noite, eu lhe adoro e lhe detesto
Mas me conformo com o seu resto
O dia que vai nascer

Compositor: Marcelo Drumond Nova (Marcelo Nova)
ECAD: Obra #258268

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