Marco Brasil

Eu E Meu Pai

Marco Brasil


Olha lá o meu pai
Com as mãos calejadas
Perdendo o seu resto de vida
No cabo da enxada

Eu não queria que fosse assim
Pra mim seria tudo diferente
Queria ter meu pai na cidade
Morando alegre junto da gente

De que vale ter diploma
Ter conforto, ter de tudo
Se eu não posso ter em casa
Ele que me pôs no mundo

Estudei por tantos anos
Para tira-lo daqui
Meu esforço foi em vão
Porque ele não quer ir

Quando é de manhãzinha
Que o dia vem chegando
Ele escuta seu despertador
No poleiro cantando

Ele chama seu melhor amigo
Que sai latindo e correndo na frente

E vem pro trabalho pesado
Aqui debaixo deste sol ardente

Nesse carro eu me vejo
Bem vestido e perfumado
Sofro tanto vendo ele
De suor todo molhado

Olha a condução do velho
Numa corda amarrada
Olha a geladeira dele
lá na sombra encostada


Quando é de tardezinha
vai pra sua casinha
Comer seu feijão com arroz
Feito no fogão a lenha

E na sua poltrona de angilo
Ele vai sentar comovido
E na tela maior do mundo
Ele contempla seu filme preferido

Na televisão do velho
Não tem filmes de bandidos
Não tem filmes policiais
E nem filmes proibidos

No canal do infinito
Sua TV é ligada
Só aparecem as estrelas
E a lua prateada

Olha lá o meu pai...

Compositores: Vicente Dias da Costa (Vicente Dias), Cleide Ramires da Costa (Cleide)
ECAD: Obra #37816 Fonograma #1029346

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