Se escrevo o que sinto

é porque assim diminuo a febre de sentir

O que confesso não tem importância

pois nada tem importância

Faço paisagens com o que sinto

Não posso escolher como me sinto

mas posso escolher o que fazer a respeito

É curioso como não sei dizer quem sou

Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer

Sobretudo tenho medo de dizer

porque no momento em que tento falar

não só não exprimo o que sinto

Como o que sinto

se transforma lentamente no que eu digo

Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto

Que vejo

e que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam

Sinto a falta dele como se me

Faltasse um dente na frente excruciante

O que eu sinto eu não ajo

O que ajo não penso

O que penso não sinto

Do que sei sou ignorante

Do que sinto não ignoro

Não me entendo

E ajo como se entendesse

Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto

que vejo

E que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam

Sinto a falta dele como se me

Faltasse um dente na frente excruciante

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo

Se é a razão que faz o homem

é o sentimento que o conduz

O amor não é uma futilidade ou um divertimento

é um sentimento profundo

Que decide de uma vida

Não há o direito de o falsificar

Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto

que vejo

E que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam

Sinto a falta dele como se me

Faltasse um dente na frente excruciante