Milton Nascimento

Cálice

Milton Nascimento

Regravação de Chico Buarque


Pai afasta de mim esse cálice
Pai afasta de mim esse cálice
Pai afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor engolir a labuta
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil pai abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Compositores: Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque) (UBC), Gilberto Passos Gil Moreira (Gilberto Gil) (UBC)Editores: Gege Editora (UBC), Marola Edicoes (UBC)Administração: Sony Music Publishing (UBC)Publicado em 2018 (24/Ago)ECAD verificado obra #2074386 e fonograma #19665768 em 11/Abr/2024 com dados da UBEM

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