Durante mais de um mês os fãs do U2 penaram. Mas o dia da recompensa finalmente chegou com so dois shows que certamente ficarão na memória de quem esteve no Morumbi nos dias 20 e 21. O Vagalume conferiu o show da última terça-feira e conta tudinho aqui.

Madrugada de terça para quarta, o Morumbi apinhado de gente querendo sair de qualquer jeito de lá e no final das contas uma grande certeza fica na nossa cabeça: se você é um fiel dessa religião chamada U2 é bom saber que as penitências estão em maior número que os momentos de êxtase e que o dízimo a ser pago costuma ser alto.
U2
U2 (Foto: Folha Imagem)


Ainda bem que esses momentos acabam compensando todo o calvário pelo qual o pessoal foi submetido. Creio não ser necessário lembrar em detalhes das brigas por ingressos, dos cambistas, das cotas de convites para os patrocinadores etc, etc, etc. Depois disso tudo, só o fato do pessoal ter conseguido entrar no estádio sem atropelos já mereceu comemoração.

FRANZ FERDINAND

Às 8 em ponto os escoceses do Franz Ferdinand abriram a noite. Ser banda de abertura é sempre algo complicado, mais ainda se ela toca antes de uma atração muito aguardada e não tem um arsenal de sucessos para segurar a plateia. Com esse retrospecto todo dá para se dizer que a apresentação deles foi um sucesso, apesar do
Franz Ferdinand
Franz Ferdinand (Foto: Tiago Queiroz/AE)
som sem volume demais que deixou as composições funkeadas do grupo sem o peso necessário.

A banda de Alex Kapranos fez um show enxuto e divertido. Mandaram músicas dos seus dois (bons) álbuns, levantaram o público nos semi-hits "Do You Want To" e "Take Me Out", agradeceram em português e fez o público bater palminha. No final tinha bastante gente perguntando sobre quem eram eles (um casal mais velho que estava ao meu lado, acabou fazendo a ponte certa ao compará-los aos Talking Heads e seu funk cerebral de branco).

U2

Mais uma meia hora de espera e ao som de "" do Arcade Fire as luzes se apagam. A partir daí o que se viu foi uma banda segura, acostumada a tocar para multidões. O show não diferiu muito da apresentação feita no dia anterior e nem do DVD recém-lançado. A banda começa com "City Of Blinding Lights" para emendar com "Vertigo" e "Elevation". Nessa hora o maior temor dos fãs se mostrava real: o som estava baixo demais (só foi melhorar mais para frente) o que deixava o povo ouvindo mais a sua própria voz que a do Bono. Esse mostrou porque é um dos maiores front man do rock. O cantor sempre busca se comunicar com o público, arrisca frases em português ("Ontem tocamos para o Brasil inteiro, hoje essa é nossa festinha particular"), chama pessoas da plateia para o palco (até improvisou "Desire" para uma garota chamada... Desiré), anda bastante nas passarelas laterais e, claro, as vezes esbarra na demagogia (...mas sem perder a ironia jamais, como quando mostra para o telão uma camiseta com os dizeres: "Bono para Presidente").
U2
U2 (Foto: Alexandre Schneider/UOL)


Mesmo assim fica difícil não sentir um nó na garganta ao ver a declaração dos direitos humanos na tela, ou os apelos pelo fim da pobreza. Ao mesmo tempo não deu para esconder uma certa tristeza - e mesmo amargor - quando o vocalista falou (com legendas no telão) que assim como a Irlanda um novo Brasil estava nascendo, quando na verdade o sentimento geral por ali era mais a de morte prematura mesmo (o que leva a pensar que talvez esse show devesse ter acontecido há uns quatro anos). O espetáculo acabou frustrando um pouco apenas quem esperava por mais improvisos ou canções menos usuais. Ao contrário dos shows norte-americanos, o grupo deixou de fora as músicas do primeiro álbum "Boy" e preferiu repetir "Miss Sarajevo" tocada no show de segunda, ao invés de arriscar "Bad" ou "Running To Stand Still". Outras canções apresentadas no show de segunda que ficaram de lado foram "Original Of The Species", "All Because Of You" e "Stuck In A Moment You Can't Get Out Of" substituídas por "The First Time", "Yahweh" e "All I Want Is You", que encerrou o concerto no lugar de ""40"".

U2
U2 (Foto: Alexandre Schneider/UOL)
Como era esperado, os melhores momentos foram os de catarse coletiva, ou seja, os velhos sucessos "Sunday Bloody Sunday", "Pride (In The Name Of Love)", "With Or Without You" e, especialmente, "Where The Streets Have No Name" e "One", com muito marmanjo derramando lágrimas sem vergonha nenhuma.

E assim se foi. Ao final de mais de duas horas, as luzes e acenderam e todo mundo se esqueceu das 16 horas passadas em filas, das outras tantas penduradas ao telefone, da água cara, do merchandising com preço extorsivo (um chaveiro oficial custava R$25,00, uma camiseta R$60,00), do preço do estacionamento, do palco baixo que não facilitava a vida de qualquer pessoa com menos de 1,70 e voltaram com um sorriso para casa. Tirando aquela meia dúzia que preferiu dizer que os shows de 98 foram melhores...