por Leandro Saueia
Com a balada "Fix You" o Coldplay encerrou o último dos três shows que fez em sua mini-turnê Latino-Americana. Terminava ali também uma série de shows que deu o que falar. O fato é que raramente bandas realmente grandes escolhem o Brasil para shows de médio ou pequeno porte. Lá fora isso é mais comum. Os Rolling Stones sempre tocam para mil pessoas em um bar canadense antes do início de suas turnês, por exemplo. A diferença é que o público de lá que não conseguiu ingresso para esses shows concorridos sempre pode contar com as apresentações em estádios e arenas. Ou seja, conseguem ver o concerto de um jeito ou de outro.
A grande maioria dos fãs brasileiros infelizmente não pôde ver a banda porque os shows ocorreram só em São Paulo e os ingressos simplesmente voaram das bilheterias (sendo que muitos deles aterrissaram nas mãos de cambistas que pediam até 600 reais por uma entrada). Para complicar mais a situação uma série de rumores se espalharam. O maior deles dizia que a banda usaria esses shows para testar seu novo repertório e que poucos hits seriam executados. Esses boatos se dissiparam tão logo a banda pisou no Chile - a primeira parada da turnê - e fez um concerto basicamente de sucessos.
A questão então era uma só: se a banda estava vindo para tocar sucessos porque nãofizeram os shows em locais maiores ou ao menos sem as cadeiras - que realmente não fizeram o menor sentido já que todo mundo ficou em pé o tempo todo?
A resposta acabou vindo na coletiva quando a banda disse que aquela turnê era para os fãs, mas principalmente para eles que resolveram se divertir fazendo alguns shows de menor escala na América Latina, pois haviam gostado da recepção que tiveram aqui em 2003. Chris Martin falou preferir shows em locais menores, algo que se tornou quase que impossível desde quando a banda subiu para o primeiro escalão do pop. Por isso ele diz ter estranhado chegar na Argentina e ver a banda sendo tratada como a vilã da história. Enfim, se isso serve de consolo o baixista Garry Barryman prometeu voltar ao país na próxima turnê, e dessa vez para shows de grande porte.
O FUTURO
O futuro imediato da banda também é promissor. Brian Eno (um dos grandes gênios do pop seja como músico ou produtor de discos de Talking Heads, David Bowie e U2) será mesmo o produtor do próximo disco ? junto com a banda, como fez questão de frisar Chris Martin.
Aparentemente após lançarem três discos de sonoridade semelhante, o Coldplay agora está ambicionando novos caminhos. A afirmação de que "Eno foi escolhido por ser mais talentoso do que a gente", como Garry disse na mesma coletiva demonstra mais que ironia ou arrogância uma constatação: a de que artistas quando chegam ao topo simplesmente param de ser contestados por quem quer que seja e é nesse ponto que os traços da decadência podem começar a ser sentidos. Em outras palavras, a banda escolheu Brian Eno não só pela admiração que sentem pelo produtor, mas por quererem alguém que seja duro com eles caso isso se faça necessário. De qualquer forma os fãs não precisam temer por uma mudança mais radical (como fez o Radiohead), o baterista Will Champion disse que não importa a direção que o grupo tome, as boas melodias sempre estarão presentes no trabalho deles. "Mesmo porque essas são as canções que rendem os melhores ringtones e até hoje o Coldplay só tem um ringtone bom, o de 'Clocks'", brincou Chris para depois emendar mais sério que os ringtones reduzem a música à sua coisa mais simples e básica: a melodia, e é isso o que acaba ficando no final.
Infelizmente os momentos aproveitáveis da coletiva acabaram aí. Deu pra sentir que ao contrário de Bono, com quem Martin é sempre comparado, a banda não tem muita paciência para entrevistas. Após uma série de perguntas sem nexo (como "o que você acha que pode ser feito para se acabar com a desigualdade social no Brasil?") ou simplesmente grosseiras (perguntaram para o vocalista, casado com a atriz Gwyneth Paltrow, os três filmes estrelados pela mulher que ele mais gostava), a banda deu por encerrada a entrevista.
O SHOW
Se para quem ficou do lado de fora do Via Funchal os últimos dias de fevereiro foram de desespero e tristeza, lá dentro tudo era festa. A plateia era bem comportada mas variada o bastante para incluir pré adolescentes, quarentões e fãs de indie rock ? o que prova que o Coldplay mesmo com o desdém de parte da crítica pode sim se tornar a banda mais famosa e marcante dessa década.
O set list não teve nenhuma inédita assim como nos shows anteriores da turnê. Eles explicaram que não queriam ver no dia seguinte as músicas circulando pela internet e também lembraram que como raramente tocam aqui os fãs provavelmente estavam mais a fim de ouvir os hits do grupo. E foi isso que a banda ofereceu à plateia: um punhado de grandes ("Yellow", "In My Place", "Speed Of Sound", "Clocks") e pequenos sucessos (incluindo "Shiver" que acabou entrando em definitivo para o set depois de ser bastante pedida na noite de estreia) tocados com precisão cirúrgica e engrandecidos pela boa presença de palco de Chris Martin. Esse sabe ser melodramático, brincalhão e populista (como nos momentos em que desce até a plateia ou quando tira fotos do público para depois entregar a câmera para um espectador ou quando dedilhou "Garota de Ipanema" ao piano) quando preciso e mostra ser um grande entertainer.
O resto da banda segura bem a onda mesmo sem contar com nenhum instrumentista virtuoso. Ou seja, a força do Coldplay vem do carisma de seu líder e do poder de suas canções simples, bonitas e, por vezes, ingênuas. Some a isso uma iluminação perfeita e um som bem definido (coisa rara de se ver por aqui) e realmente não tinha como dar errado. As pouco mais de seis mil pessoas que viram os shows saíram do Via Funchal felizes e provavelmente veriam tudo de novo se tivessem a chance. Melhor diagnóstico impossível.
Com a balada "Fix You" o Coldplay encerrou o último dos três shows que fez em sua mini-turnê Latino-Americana. Terminava ali também uma série de shows que deu o que falar. O fato é que raramente bandas realmente grandes escolhem o Brasil para shows de médio ou pequeno porte. Lá fora isso é mais comum. Os Rolling Stones sempre tocam para mil pessoas em um bar canadense antes do início de suas turnês, por exemplo. A diferença é que o público de lá que não conseguiu ingresso para esses shows concorridos sempre pode contar com as apresentações em estádios e arenas. Ou seja, conseguem ver o concerto de um jeito ou de outro.
A grande maioria dos fãs brasileiros infelizmente não pôde ver a banda porque os shows ocorreram só em São Paulo e os ingressos simplesmente voaram das bilheterias (sendo que muitos deles aterrissaram nas mãos de cambistas que pediam até 600 reais por uma entrada). Para complicar mais a situação uma série de rumores se espalharam. O maior deles dizia que a banda usaria esses shows para testar seu novo repertório e que poucos hits seriam executados. Esses boatos se dissiparam tão logo a banda pisou no Chile - a primeira parada da turnê - e fez um concerto basicamente de sucessos.
A questão então era uma só: se a banda estava vindo para tocar sucessos porque nãofizeram os shows em locais maiores ou ao menos sem as cadeiras - que realmente não fizeram o menor sentido já que todo mundo ficou em pé o tempo todo?
A resposta acabou vindo na coletiva quando a banda disse que aquela turnê era para os fãs, mas principalmente para eles que resolveram se divertir fazendo alguns shows de menor escala na América Latina, pois haviam gostado da recepção que tiveram aqui em 2003. Chris Martin falou preferir shows em locais menores, algo que se tornou quase que impossível desde quando a banda subiu para o primeiro escalão do pop. Por isso ele diz ter estranhado chegar na Argentina e ver a banda sendo tratada como a vilã da história. Enfim, se isso serve de consolo o baixista Garry Barryman prometeu voltar ao país na próxima turnê, e dessa vez para shows de grande porte.
O FUTURO
O futuro imediato da banda também é promissor. Brian Eno (um dos grandes gênios do pop seja como músico ou produtor de discos de Talking Heads, David Bowie e U2) será mesmo o produtor do próximo disco ? junto com a banda, como fez questão de frisar Chris Martin.
Aparentemente após lançarem três discos de sonoridade semelhante, o Coldplay agora está ambicionando novos caminhos. A afirmação de que "Eno foi escolhido por ser mais talentoso do que a gente", como Garry disse na mesma coletiva demonstra mais que ironia ou arrogância uma constatação: a de que artistas quando chegam ao topo simplesmente param de ser contestados por quem quer que seja e é nesse ponto que os traços da decadência podem começar a ser sentidos. Em outras palavras, a banda escolheu Brian Eno não só pela admiração que sentem pelo produtor, mas por quererem alguém que seja duro com eles caso isso se faça necessário. De qualquer forma os fãs não precisam temer por uma mudança mais radical (como fez o Radiohead), o baterista Will Champion disse que não importa a direção que o grupo tome, as boas melodias sempre estarão presentes no trabalho deles. "Mesmo porque essas são as canções que rendem os melhores ringtones e até hoje o Coldplay só tem um ringtone bom, o de 'Clocks'", brincou Chris para depois emendar mais sério que os ringtones reduzem a música à sua coisa mais simples e básica: a melodia, e é isso o que acaba ficando no final.
Infelizmente os momentos aproveitáveis da coletiva acabaram aí. Deu pra sentir que ao contrário de Bono, com quem Martin é sempre comparado, a banda não tem muita paciência para entrevistas. Após uma série de perguntas sem nexo (como "o que você acha que pode ser feito para se acabar com a desigualdade social no Brasil?") ou simplesmente grosseiras (perguntaram para o vocalista, casado com a atriz Gwyneth Paltrow, os três filmes estrelados pela mulher que ele mais gostava), a banda deu por encerrada a entrevista.
O SHOW
Se para quem ficou do lado de fora do Via Funchal os últimos dias de fevereiro foram de desespero e tristeza, lá dentro tudo era festa. A plateia era bem comportada mas variada o bastante para incluir pré adolescentes, quarentões e fãs de indie rock ? o que prova que o Coldplay mesmo com o desdém de parte da crítica pode sim se tornar a banda mais famosa e marcante dessa década.
O set list não teve nenhuma inédita assim como nos shows anteriores da turnê. Eles explicaram que não queriam ver no dia seguinte as músicas circulando pela internet e também lembraram que como raramente tocam aqui os fãs provavelmente estavam mais a fim de ouvir os hits do grupo. E foi isso que a banda ofereceu à plateia: um punhado de grandes ("Yellow", "In My Place", "Speed Of Sound", "Clocks") e pequenos sucessos (incluindo "Shiver" que acabou entrando em definitivo para o set depois de ser bastante pedida na noite de estreia) tocados com precisão cirúrgica e engrandecidos pela boa presença de palco de Chris Martin. Esse sabe ser melodramático, brincalhão e populista (como nos momentos em que desce até a plateia ou quando tira fotos do público para depois entregar a câmera para um espectador ou quando dedilhou "Garota de Ipanema" ao piano) quando preciso e mostra ser um grande entertainer.
O resto da banda segura bem a onda mesmo sem contar com nenhum instrumentista virtuoso. Ou seja, a força do Coldplay vem do carisma de seu líder e do poder de suas canções simples, bonitas e, por vezes, ingênuas. Some a isso uma iluminação perfeita e um som bem definido (coisa rara de se ver por aqui) e realmente não tinha como dar errado. As pouco mais de seis mil pessoas que viram os shows saíram do Via Funchal felizes e provavelmente veriam tudo de novo se tivessem a chance. Melhor diagnóstico impossível.